Rodrigo Constantino
“Ninguém pode usar uma máscara por muito tempo: o fingimento retorna rápido à sua própria natureza.” (Sêneca)
Recentemente, a candidata Dilma Rousseff resolveu vestir nova embalagem, uma roupa costurada por Palocci para torná-la mais atraente sob os olhos da iniciativa privada. Até mesmo em imposto zero para investimentos a candidata tem falado, além de atacar o desrespeito do MST às leis, defender a liberdade de imprensa e coisas do tipo. Diante do fato de que o presidente Lula teve oito anos para fazer as reformas estruturais e não as fez, e não foi por falta de popularidade ou apoio no congresso, fica difícil acreditar nas promessas recentes de Dilma. Ainda mais quando nos lembramos de quem estamos falando!
Dilma foi uma guerrilheira que lutou para implantar no país uma ditadura do proletário. Com este fim em mente, ela se alinhou aos piores grupos revolucionários, aderindo à máxima de que os fins justificam quaisquer meios. O Colina e o VAR-Palmares foram organizações que praticaram os piores tipos de atrocidades, incluindo assaltos, ataques terroristas e seqüestro. Tudo bem: devemos levar o contexto da época em conta. Guerra Fria, muitos jovens idealistas iludidos com a utopia socialista, e dispostos a tudo pela causa. Mas o tempo passou, e vários colegas destes tempos colocaram as mãos na consciência e fizeram um doloroso mea culpa, reconhecendo os erros do passado. Dilma, entretanto, declarou com todas as letras numa entrevista à revista Veja: “eu nunca mudei de lado”.
Sabendo-se que este lado nunca foi o da democracia, e sim o lado que aponta para Cuba, resta perguntar: qual Dilma pretende governar o país se eleita? Ainda há pouco, Dilma falava das maravilhas de um Estado indutor, centralizador, assumindo a locomotiva do crescimento do país. É esta Dilma que pretende assumir o poder? Ou a Dilma “paz e amor” que foi criada pelos seus marqueteiros? A personagem não ostenta nada em comum com a realidade de uma vida inteira. Quem ainda pode se enganar com tamanha atuação?
Na fábula de Esopo sobre o gato e as galinhas, um gato tinha ouvido dizer que as galinhas de certa granja estavam doentes. Ele se disfarçou então de médico e, munido dos instrumentos necessários à arte, apresentou-se diante do galinheiro e perguntou às galinhas como elas estavam. Na fábula, elas demonstram sabedoria ao responder: “Muito bem, se tu te fores daqui”. Será que as galinhas brasileiras doentes, delirando com a prosperidade ilusória da economia, terão a mesma capacidade de enxergar a realidade?
Quanto ao abismo entre as palavras novas proferidas pela candidata e suas ações concretas durante a vida inteira, Esopo também poderia dar uma lição com a fábula da raposa e do lenhador. A raposa, fugindo de caçadores, viu um lenhador e lhe suplicou um esconderijo. Ele a convidou a entrar em sua cabana e lá esconder-se. Logo depois chegaram os caçadores, que perguntaram ao lenhador se ele vira a raposa passar. O lenhador negou em voz alta tê-la visto, mas fez um gesto com a mão indicando seu esconderijo. Os caçadores, sem notarem o gesto, ficaram com as palavras, e partiram. A raposa saiu em seguida sem dizer nada e, ao ser censurada pelo lenhador por nem sequer ter agradecido, ela disse: “Eu teria te agradecido se entre as palavras e o gesto que fizeste com a mão houvesse correspondência”.
Para aqueles mais ingênuos, que logo acreditam nas mudanças da essência, ignorando a natureza do ser, Esopo tem um importante alerta com a fábula do lavrador e da serpente congelada. Um lavrador, durante um inverno rigoroso, encontrou uma serpente congelada. Apiedou-se dela e a pôs em seu colo. Aquecida, ela voltou à vida normal, picou seu benfeitor ferindo-o de morte. E ele, morrendo, disse: “É justo que eu sofra, pois me apiedei de uma malvada”.
Chávez, em 1998, declarou que não tinha nenhuma intenção de nacionalizar empresas, de controlar a imprensa ou de destruir a democracia e permanecer no poder. Ao contrário, ele se mostrou bastante receptivo ao capital estrangeiro. Na época, ele estava prospectando clientes. Depois, era tarde demais. Ele já tinha o domínio da situação, e estava pronto para sacrificar suas vitimas ingênuas. Quem garante que Dilma e seu PT não pretendem o mesmo? O governo Lula, não custa lembrar, só não avançou mais na direção da revolução “bolivariana” porque não foi capaz. A intenção estava claramente lá, não apenas nas declarações que o próprio presidente deu em certas ocasiões, afirmando que dirige na mesma direção que o caudilho venezuelano, como em alguns atos de governo, como o Ancinav, a CNJ, a tentativa de expulsão do jornalista estrangeiro, o “mensalão”, o PNDH-3, o aparelhamento das agências regulatórias, das estatais, dos fundos de pensão, da Abin, da Receita, do Supremo, etc.
Por fim, Esopo teria uma boa lição para dar à oposição também, a todos que pretendem barrar o projeto petista de poder. A fábula dos três bois e o leão diz que os bois eram muito ligados e dividiam tudo entre si. Um leão, querendo comê-los, não o conseguia por causa de sua união. Lançando mão de palavras enganosas, conseguiu apartá-los uns dos outros. E, ao encontrar cada um deles separadamente, os devorou. Alguns empresários, encantados com as palavras da ex-guerrilheira, estão ajudando a alimentar o monstro que pretende devorá-los depois.