sexta-feira, outubro 15, 2010

Faca na Caveira



Rodrigo Constantino

Finalmente consegui ver “Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro”. Excelente filme, que gerou intenso debate sobre seu possível viés ideológico. Já vi alguns alegando ser um filme de “esquerda”, outros afirmando que se trata de um filme de “direita”, e até mesmo um ou outro dizendo que é um filme “libertário”, contra o sistema todo. Para mim, trata-se apenas de um ótimo filme realista. Retrata bem o que se passa na polícia, no governo e nas favelas cariocas, sem a pretensão de fornecer uma receita milagrosa contra tantos problemas complicados. E, acima de tudo, uma grande diversão.

O filme foi muito bem produzido, com padrões hollywoodianos. Claramente, o foco da equipe envolvida esteve no consumidor o tempo todo. O produto precisa agradar ao público, e o filme de José Padilha conseguiu exatamente isso. Basta ver a enorme demanda, com inúmeras salas disponíveis para o filme nacional, todas lotadas. Que inveja isso deve gerar naqueles que fazem filmes “engajados”, para regozijo próprio ou para agradar aos poderosos no governo, normalmente a turma que defende subsídios estatais e cotas para os filmes nacionais. Quando o filme é bom, nada disso é necessário. Tropa de Elite é prova disso.

Mas, voltando à questão ideológica, fico com o realismo mesmo, sem viés de “esquerda” ou “direita”. Sim, logo no começo, o filme dá uma boa ridicularizada nos intelectuais esquerdistas que sempre defendem os piores bandidos por meio de ONGs “pacifistas”. Lembrei da ONG “Viva Rio” na hora, não sei por que. Quando o Capitão Nascimento fala que o “Che” Guevara estava entrando no presídio para falar com o líder do Comando Vermelho, eu ri muito. O oportunismo do professor, que depois vira político, surfando a onda da fama, retrata bem o que acontece na vida real.

Só que a alegria dos belicosos que idolatram a violência policial e repetem o bordão “bandido bom é bandido morto”, dura pouco. O filme mostra bem o outro lado, a podridão da própria polícia, as milícias mafiosas, o grau de envolvimento de governantes. Não sei explicar bem os motivos, mas quando via o governador do filme sempre pensava em Brizola ou seus filhotes modernos, como Garotinho. Quando Nascimento joga bosta no ventilador, acusando quase todos os políticos de “ficha suja”, está sendo fiel aos fatos da realidade.

Um dos pontos altos do filme foi quando o Capitão Nascimento, falando no plenário da Câmara dos Deputados, confessou não saber como responder ao filho porque matava pessoas, ou para quem. O dilema pessoal do Capitão Nascimento mostra bem a busca de sentido daqueles que pensam lutar pela justiça, mas descobrem que foram usados para interesses alheios no sistema podre. Nascimento afirma categoricamente que a Polícia Militar deveria ser fechada, o momento mais revolucionário do filme. Mas não existem panacéias. Os problemas são complexos demais, e não existem soluções fáceis ou milagrosas.

A mensagem final que o filme passa é justamente essa, em minha opinião. A cena se desloca para Brasília, e o personagem principal pergunta quem são os responsáveis que colocam aqueles safados no poder. Pois é, prezado eleitor. Gerações e gerações serão necessárias para mudanças estruturais. Educação, conscientização das pessoas, investimento no sistema carcerário, redução da impunidade, lei da ficha limpa, legalização das drogas, redução dos impostos, são vários os passos graduais que podem ir recuperando a segurança na “cidade maravilhosa” e oferecer melhores oportunidades aos pobres das favelas. Uma longa jornada começa com alguns passos.

Quem ainda não teve a oportunidade de ver o filme, faça isso o mais rápido possível. É diversão garantida. Faca na caveira!

PS: Wagner Moura é um excelente ator.

13 comentários:

Theresa disse...

É uma comédia?
Penso que seja divertido, pois voce escreveu que o filme é "uma diversão".
Pensava que o assunto seria sério, favelas, drogas, tropa de elite, corrupção policial, mortes e trafico de drogas, não me parece ser diversão e sim uma calamidade, um flagelo social.
Me enganei!

ntsr disse...

'legalização das drogas'?????
Tava bom até aí

Rodrigo, vc fala tanto de argumentos ma parece que é meio cego quando os argumentos e os FATOS não são os convenientes.

1)Algum anarquista aí pode explicar pq é que alguém que pode comprar uma cerveja sem imposto vai querer pagar por uma com imposto mais cara^?

2)Algum anarquista aí pode explicar pq é que se legalizar tudo diminui o crime, COMO É QUE O PCC ABRIU UMA FILIAL EM PORTUGAL E ESTÁ LÁ GANHANDO DINHEIRO VENDENDO DROGAS ILEGAIS?

econoespaco disse...

O produtor e diretor de "Tropa de Elite" I e II foi perguntado o que ele achava da indicação do filme Lula para o Oscar. Padilha respondeu que não viu o filme, mas relatou que o filme termina antes do mensalão... e ele gostaria de ver a parte II do filme. Depois disse que tem o projeto para filmar o Lulla II, e já tem o nome provisório de "Nunca antes na história deste país".

Esse filme será imperdível!!!!!

Juliana disse...

É dificil gente que não sabe interpretar uma ironia no texto. haha. Excelente texto Rodrigo, o filme é mesmo ótimo, a gente sai meio revoltado com a verdade que ele mostra, mas vale MUITO a pena. É quase um retrato do governo do PT, a jornalista morta seria o Tim Lopes, afinal é da globo filmes. hauha

Unknown disse...

Ao meu ver, não há absolutamente nenhum problema em misturar algumas pitadas de humor inteligente e ágil em meio a um filme cujo tema central é sério. Muito pelo contrário, apenas enriquece a obra.

Quanto às drogas,ntsr, você parte da premissa que NECESSARIAMENTE a "droga com imposto" vai ser bem mais cara que a ilegal. Não esqueça que o tráfico de drogas é possivelmente a atividade comercial mais lucrativa do planeta, mas a pirâmide é extremamente achatada e o custeio da operação (propinas, armas, etc) é alto.

Digo até que existiria uma diferença de preço que os consumidores aceitariam pagar a mais, para nao se envolver com a violência e o perigo (diretos) atrelados à ala ilegal da atividade. Na hora em que você legalizar a atividade, vai encher de ofertante querendo entrar no mercado... claro, isso tudo vai depender do grau de legalização, termos, etc.

felipe disse...

Sobre as pessoas falando do governo do PT, não acredito que isso seja direcionado a ele não e sim a parga chamada garotinho, que assolou o Rio por oito anos. Eu escrevi um resumão de todas as referências políticas do filme http://www.ambrosia.com.br/2010/10/14/tropa-de-elite-2-uma-falha-chamada-seguranca-publica/

Para os interessados em perceber o "realismo"por detrás do filme, pode ser legal...

Gabriel Oliva disse...

1)Algum anarquista aí pode explicar pq é que alguém que pode comprar uma cerveja sem imposto vai querer pagar por uma com imposto mais cara^?

Já que você usou o exemplo da cerveja, então me responda você: se a cerveja é legalizada, e uma alta alíquota de imposto incide sobre ela, por que não há um consumo em massa de bebidas alcoólicas contrabandeadas? Quantas favelas são dominadas por bandidos financiados com dinheiro de contrabando de álcool ou de cigarro? Por que a absoluta maioria dos traficantes de álcool americanos da época da Lei Seca deixaram o negócio depois que essa lei foi revogada?

2)Algum anarquista aí pode explicar pq é que se legalizar tudo diminui o crime, COMO É QUE O PCC ABRIU UMA FILIAL EM PORTUGAL E ESTÁ LÁ GANHANDO DINHEIRO VENDENDO DROGAS ILEGAIS?

Viu os negritos que eu botei? Sua pergunta por si só já é contraditória: como é que se ganharia dinheiro com drogas ilegais, se essas fossem legais? Portugal só descriminalizou o uso de drogas. Não foram legalizadas a produção e a comercialização de drogas. Os bandidos tem monopólio dessas áreas hoje. Duvido que eles aguentariam a concorrência de empresas eficientes e geridas profissionalmente. E acredite: os custos necessários para operar à margem da lei (subornos, compra de armas, confrontos com a polícia,etc.) são dificilmente são menores do que qualquer imposto sobre drogas.

Some-se a tudo isso, os fato de que as drogas fornecidas por empresas seriam mais acessíveis (vendidas em bancas de jornais, mercados, etc.) e de que é mais seguro comprar nesses locais do que em bocas de fumo ou em morros. Além disso, tais empresas possuiriam controle de qualidade das substâncias vendidas, podendo ser processadas caso seja misturada alguma química nociva.

Pra saber então quem ganharia o mercado de venda de drogas responda-me a seguinte pergunta: você prefere um produto mais barato, mais acessível, vendido em locais mais seguros e com controle de qualidade, ou um similar mais caro, pouco acessível, vendido em locais perigosos e sem controle de qualidade?

Marcelo Rissatto disse...

Gabriel acabou com o debate. Nada mais a acrescentar.

ntsr disse...

Esses grifos foram desnecessários, qualquer um entende que eu tava falando das que são ilegais AQUI.

E sobre um produto mais barato, mais acessível feito pelas grandes empresas, nos EUA tem sim um comércio bem grande de cervejas artesanais

ntsr disse...

Só não tem aqui também pq o povo daqui é tosco e não sabe fazer nada, só sabe engolir o que vem empacotado

ntsr disse...

E outra, o tráfico já é uma indústria milionária com décadas de know how, quem garante que sem o governo enchendo o saco os chefões do tráfico não vão virar empresários? Aí esse negócio de 'legalizar pra n ter que lidar com a escória' não cola, vai ser o mesmo cara, só agora podendo fazer um produto bonitinho, enfeitadinho.
Vcs tem FÉ que eles n iam conseguir competir com os caras do cigarro, mas pode muito bem ser o contrário.

Rodrigo Constantino disse...

ntsr, os mafiosos também tinham experiência no contrabando de bebida. Quando a Lei Seca acabou, não foram Al Capones que dominaram o negócio.

O expertise deles é no mercado negro, ilegal, criminoso. A coisa muda quando é legalizada.

ntsr disse...

Não consigo ver como essa grande mudança ia ser benéfica.No caso, quem ia vender o veneno ia ter apoio do governo com imposto propaganda e tudo, ia continuar chegando veneno pra quem quizesse e ficava ainda mais fácil a vida de um drogado estúpido que quizesse roubar e matar teu filho pra comprar droga

Mas enfim, assisti o filme hoje finalmente, e o foco principal dele nem é nada disso mas sim como ele mostra uma coisa lógica, absurdamente óbvia, que só os anarquistas infantis, a milhões de quilometros do mundo real não conseguem ver, ou fingem que não conseguem:
Que se não tiver governo a sociedade não vai virar um bando de hippies abraçando árvores e cantando kunbaya; sem governo os segundo ou terceiro menores vão brigar entre si e quem ganhar vai virar o próximo governo!