sexta-feira, junho 11, 2010

A Pátria de Chuteiras



Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Começa hoje a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Não sei se é apenas impressão minha, mas poucas vezes vi tão pouca empolgação popular com uma Copa do Mundo no país do futebol. E isso a despeito da excessiva propaganda nos meios de comunicação. Somos bombardeados incessantemente com notícias e reportagens sobre a Copa, mas nada disso parece surtir o efeito desejado. Não tenho a explicação para o fenômeno, se é que ele está corretamente observado. Mas gostaria de propor uma hipótese, talvez influenciada por meu desejo de crer nela: o público está saturado de tanto ufanismo!

Nunca antes na história deste país se viu tanta mistura entre nacionalismo e futebol. Desde o ditador Geisel não acontecia de a seleção brasileira desviar seu percurso para beijar a mão do líder máximo da nação. O discurso do técnico Dunga no anúncio da escalação foi um show de nacionalismo barato. O povo quer ver futebol, de preferência com craques fazendo arte, mas não deseja ver populistas e demagogos se aproveitando desta paixão nacional. Ao menos eu penso assim, e mais alguns amigos que vejo revoltados com esta postura. Será otimismo excessivo de minha parte estender isso para boa parte da população?

Em 1548, Étienne de La Boétie escreveu seu Discurso Sobre a Servidão Voluntária, onde sustenta a tese de que o povo acaba sendo escravo por opção. Ele diz: “Os teatros, jogos, farsas, espetáculos, lutas de gladiadores, animais estranhos, medalhas, quadros e outros tipos de drogas, eram para os povos antigos os atrativos da servidão, o preço da liberdade, as ferramentas da tirania”. Em resumo, o velho “pão e circo”. Troca-se o Coliseu pela Copa, e tudo continua o mesmo. “Assim, os povos, enlouquecidos, achavam belos esses passatempos, entretidos por um vão prazer, que lhes passava diante dos olhos, e acostumavam-se a servir como tolos”, lamenta o autor. Será que alguns estão finalmente acordando, graças aos exageros do nosso presidente? Sonhar é bom...

7 comentários:

João disse...

"Será otimismo excessivo de minha parte estender isso para boa parte da população?"

Creio que sim. A seleção não tem empolgado - e tem jogado muito pouco, em quantidade mesmo. Além disso, falta um craque com carisma, como um Ronaldo presente - ou um Romário ausente.

Então, acho que, pelo contrário, falta um... Lula lá para que o povão se contagie.

O brasileiro, na média, tem esses surtos policárpicos por figuras carismáticas.

Uma grata exceção foi a Copa de 1994, uma espécie do Plano Real do futebol brasileiro hehe

O nacionalismo bocó atualmente veste é a estrelinha do presidente. Provavelmente, ele conferiu mais popularidade à seleção desta vez do que vice-versa (note-se que não vai aqui nenhum elogio à figura, somente uma tentativa de constatação).

Basta olhar os anúncios até de empresas privadas atualmente para ver que o ufanismo brazuca está no "Brasil novo" (acaso ou não, slogan do companheiro Collor de Melo) que está sendo construído. Como nunca antes neste país (pelo menos, desde o "milagre" da ditadura militar...)

Anônimo disse...

Curioso você escrever sobre esse sentimento de falta de empolgação para a Copa.

Há algumas semanas venho comentando com minha família sobre esse mesmo sentimento: não sinto no ar aquela vibração toda, costumeira a esses períodos. O que eles, meus familiares, têm concordado comigo.

E também vejo a TV Globo fazer uma propaganda maciça sobre a Copa, tentando dar uma "forçadinha de barra" pra tentar valer todo o investimento feito por ela, o que não vejo mal nenhum nisso, mas mostra como a coisa tá mesmo meio devagar.

E quem escreveu sobre isso também foi o Kfouri em http://blogdojuca.uol.com.br/2010/06/comecou-a-copa-do-mundo/ , dizendo que sentia que a Copa havia mesmo começado só na quarta-feira passada (09-06-2010), pois até então não via tanto entusiamo das pessoas na África do Sul.

Abraços.
Anderson Bortolai

ntsr disse...

Pra mim ta a mesma porcaria de sempre, ruas pintadas, gente com camisa amarela, carros com bandeiras.

E sonhar é perda de tempo.Depois do lula la o melhor é ir se adaptando logo ao próximo governo dilmá má

ntsr disse...

Agora, n sei se mais alguém notou, o desprezo e a indiferença com que o Dunga tratou o molusco...ganhando ou n essa copa ele mostrou que é parte do pouco do brasil que pensa com a cabeça e não com a bunda.

fejuncor disse...

Amadurecemos. Esse tempo de cafonice ufanista já passou. Hoje há é paixão pela bola, as pessoas entendem mais de futebol, aquele amor incondicional “pela pátria” não subsiste a uma apresentação “feia” do time do Brasil - só mesmo em lugares de pessoas tão carentes que precisam encontrar uma razão exterior a elas. Para a maioria isso caiu fora de moda. Até acho que pensar globalmente e agir localmente implica um patriotismo sadio. Mas se enrolar numa bandeira para virar bucha de canhão em negociatas é coisa de idiota. Concordo plenamente. Viva a pátria, não; “viva a seleção”! Sintomático disso é Dunga apelando em alguns pontos da sua filosofia de jogo e uns querem rotular quem reclama de antipatriota, porém não cola mais, e ainda soa meio ridículo.

Anônimo disse...

Tá MUITO longe disso ser real!! Lembrando que em 2014 teremos copa do mundo no Brasil!! As coisas só tendem a PIORAR.

ntsr disse...

Sonhar é ruim, sonhar é péssimo, vc perde o tempo que podia usar pra vender lenços, ou melhor ainda, FABRICAR lenços.