Rodrigo Constantino, Valor Econômico
Há quase quatro anos, o Ibovespa atingiu o mesmo patamar em que se encontra atualmente. No período, o lucro operacional das principais empresas do índice experimentou um crescimento expressivo. Será que chegou a hora de fazer uma aposta mais agressiva em ações?
Antes de tentar responder essa difícil questão, pretendo desmistificar uma repetida falácia no mundo dos investimentos: a de que bolsa é um ótimo investimento, desde que o horizonte seja de longo prazo. Com o intuito de averiguar essa crença, fiz uma análise do retorno do Ibovespa em janelas de cinco anos. O resultado não é tão animador para quem acredita na tese de que "comprar e segurar" é a melhor estratégia.
Utilizei dados mensais a partir de 2000, pegando o retorno anualizado de cinco anos. Cheguei a um total de 138 observações, das quais em apenas 55% delas o Ibovespa superou o CDI. O Ibovespa rendeu algo perto de 20% ao ano nas janelas quinquenais, contra retorno de aproximadamente 19% do CDI. A mediana do retorno da bolsa ficou em parcos 105% do CDI na amostra analisada.
Quando a volatilidade é computada, percebe-se que não foi nenhuma maravilha apostar em bolsa de forma geral. Se por um lado o retorno máximo de uma janela de cinco anos do Ibovespa foi quase 48% ao ano, contra 31% do CDI, por outro lado a pior janela rendeu assustadores 6% ao ano, negativos! Isso significa que o investidor teria perdido um terço de seu capital, em termos nominais. A pior janela do CDI, em contrapartida, rendeu mais de 11% ao ano.
No período inteiro, o Ibovespa rendeu pouco mais de 270%, enquanto o CDI rendeu mais de 400%! Nesse longo horizonte superior a uma década, o Ibovespa, tirando o sono dos investidores durante inúmeras crises assustadoras, rendeu menos de 75% do CDI. Como fica evidente, o "timing" de entrada na bolsa é crucial para determinar o retorno, mesmo no longo prazo.
Essa não é a realidade brasileira apenas. O investidor que comprou S&P 500 em 2000 amarga um retorno pior que medíocre. Ele perdeu 10% de seu capital, quase 12 anos depois! No Japão a situação é muito pior: o investidor que comprou o índice Nikkei no auge da bolha, no final da década de 1980, possui hoje somente 25% do valor investido. Após duas décadas aturando a elevada volatilidade da bolsa, a senhora Watanabe teria perdido 75% de seu capital. Viva a bolsa no longo prazo?
O caso brasileiro, apesar de não ser único, possui um agravante: seu elevado custo de oportunidade. Como nenhum governo faz as reformas estruturais necessárias para colocar o país na rota do alto crescimento sustentável, nossa taxa real de juros continua em patamares elevados. A economia acaba experimentando voos de galinha. As apostas em renda variável acusam o golpe, fracassando em entregar um retorno satisfatório, quando ajustado pelo risco.
Essa tem sido a história do Brasil, e não mudou muito nos últimos anos. O fator China, que puxou o preço das commodities e permitiu um ganho gigantesco em nossos termos de troca, alongou e ampliou a fase da bonança. Mas foi só, pois novamente as reformas ficaram a ver navios. A inflação subiu de forma preocupante, o crédito sem lastro cresceu de forma muito acelerada, e aqueles que apostaram num voo de águia tiveram que encarar a dura realidade. O Ibovespa já acumula uma queda de 15% desde o pico em novembro de 2010.
Com isso, podemos retornar à questão inicial: será que está na hora de comprar bolsa? Claro que a resposta vai depender de muitos fatores. O mundo ainda vive uma fase de enormes riscos, como a possível queda abrupta do crescimento chinês, a bancarrota da Grécia e outros países europeus ou a desaceleração da economia americana. Mas, assumindo um cenário base de estabilidade externa, arrisco responder a pergunta de forma afirmativa.
À primeira vista, isso pode parecer estranho, após tanto pessimismo. Mas meu ponto central é que a hora da aposta é justamente aquela em que muitos estão desanimados. E, de fato, os investidores estrangeiros já jogaram a toalha em relação ao Brasil, os fundos locais estão leves, com muito caixa, e os analistas parecem entediados.
Ao contrário de muitos investidores, minha aposta não é no longo prazo, pois neste período o CDI dificilmente perde. Mas acredito que para um prazo mais curto, de 6 a 12 meses, este pode ser um bom momento para acrescentar risco e comprar bolsa. Muito pessimismo parece precificado, e qualquer alívio nas principais preocupações dos investidores pode levar a um interessante rali. Um bom ativo pode ser uma má aposta, e vice-versa.
8 comentários:
Por que o governo insiste em fazer um "trem-bala" que não precisamos com um dinheiro que não possuímos? Se fosse inteiramente financiado, construído e operado por empresas privadas com os encargos, taxas e o custo brasil já seria difícl, mas o país nada perderia, no entanto o modelo proposto enfia dinheiro público em um projeto não prioritário, de custos incertos e viabilidade incerta! É a irresponsabilidade petista em ação aumentando a dívida pública!
Ora, alex, porque a comissão para fazer algo de que não se precisa com um dinheiro que não se possui é sempre muito boa. O governo é corrupto. E todo corrupto faz o que não precisa com um dinheiro que não possui. É assim, sempre.
Rodrigo eu sei que é meio off-topic mas me ajuda, porque os imostos do rio grande do sul são mais caros ? '-'
e porque existem, tantas diferenças de valores de impostos ?
ee porque cobram os impostos?
aaaaaaajuuuda please ? *-*
sdoisdjisodjisod
bejo!
Socialmente, pra que serve o mercado de ações?
Prezada Mariana,
Existem diferenças entre os estados. Eles não são todos iguais. Mantê-los iguais e nivelados por baixo sempre foi o ideal do poder central, já representado pela condição colonial e mais tarde pela monarquia, a qual foi usurpada pela república que, hoje, vive às custas desta estrutura anacrônica, ineficiente, corrupta, cara. Todos os estados brasileiros são vítimas desta ordem arcaica. Veja Alagoas, que poderia ser uma nação exportadora de petróleo e no entanto está mantida medieval, para sustentar sua parte na corruptocracia narcótica instalada em Brasília. Veja o Espírito Santo, que colosso de nação, mantida miserável, violenta e esculhambada por este arremedo de "capitania hereditária" que, de resto, assola também estados como Rio de Janeiro (onde o governo federal mantém o tráfico e o crime organizado) ou Minas Gerais, com toda a sua rica cultura e economia.
O Rio Grande do Sul deve cobrar os impostos que os gauchos achem adequados. Se forem muito altos ou muito baixos, é problema a ser discutido entre os gauchos. O que não pode perdurar mais é o governo federal, reminicência de uma bula papal medieval que dividia o território americano entre Castella e Porto Gallo, continuar sendo o definidor do futuro destes povos ricos, trabalhoderas, dos estados brasileiros.
Isto não pode continuar. Não é justo que um gaucho tenha que trabalhar honesta e esforçadamente durante três meses por ano para sustentar um vagabundo cheirando cocaina e tomando uisque em Brasília ou na embaixada do Brasil na bolívia ou na Guatemala.
Caro Rodrigo, Gostaria que escrevesse algum assunto relacionado ao ouro, uma vez que nunca entendi sua importância no mercado mundial, bem como gostaria de saber o porquê ele se valoriza em países em crise.
grato, Pablo
Bem, não era de se esperar outra coisa da bolsa brasileira. A economia brasileira não é tão produtiva ou avançada a ponto de produzir retornos consistentes no longo prazo. Além disso, os maiores pesos-pesados da bolsa, responsáveis por quase 50% do IBovespa, são uma empresa estatal e outra que não é mas é como se fosse. Quem vai querer ser sócio de empresas cujos principais objetivos não são os financeiros mas os políticos?
Fernando
Como é que a bolsa brasileira poderia manter aquela rentabilidade fantástica de anos atrás quando a economia do país crescia em taxas medíocres (geralmente as menores entre os emergentes)?
Cedo ou tarde o mercado percebe que a especulação está muito acima do normal e daí vem a correção para preços mais realistas.
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