quinta-feira, abril 12, 2012

Soros e o Bundesbank


Rodrigo Constantino

George Soros, o bilionário especulador, filantropo e defensor do esquerdista Barack Obama, escreveu um artigo no Financial Times em que ataca a postura do Bundesbank. Segundo Soros, o tradicional banco central alemão, orgulho do povo germânico por seu rigor na defesa do valor da moeda, tem representado um entrave para as verdadeiras "soluções" à crise europeia.

E quais seriam estas soluções? Reformas trabalhistas nos países periféricos, que perderam competitividade ao longo dos últimos anos frente ao colosso alemão? Redução da burocracia e dos gastos públicos? Desarmar a armadilha do "welfare state" que engessou suas economias? Nada disso. Para Soros, a solução é usar o BCE para imprimir papel-moeda de forma ilimitada e indefinida. Ele explica:

The Bundesbank has seen the danger. It is now campaigning against the indefinite expansion of the money supply, and it has started taking measures to limit the losses it would sustain in a break-up. This is creating a self-fulfilling prophecy: once the Bundesbank starts guarding against a break-up, everybody will have to do the same. Markets are beginning to reflect this.

Quanto ao risco de profecia autorealizável, eu concordo que existe. Mas é preciso destacar que ele existe porque os fundamentos são frágeis e os pilares que sustentam este casamento forçado são de areia! Ignorar as verdadeiras causas do problema e focar no sintoma é a forma garantida de postergar o estouro da crise, porém amplificando a catástrofe depois.

O que Soros gostaria de ver é um caminho mais rápido na direção de uma união fiscal. Em outras palavras, o BCE ganharia tempo injetando liquidez de forma alucinada enquanto os alemães aceitariam transferir recursos para os gregos, portugueses, espanhóis e italianos. Falta só combinar com os alemães! Estes precisam encarar todos como igualmente "europeus", e não membros de uma cultura totalmente diferente, com línguas absolutamente díspares e um estilo de vida não condizente com a produtividade de seu trabalho. Pelo voto fica difícil sair um acordo desses...

E Soros sabe disso. Ele sabe também que o Bundesbank, pilar de austeridade monetária na história da Alemanha, jamais aceitaria a rota inflacionária como saída para a crise. Por isso ele defende simplesmente a "morte" do Bundesbank:

The Bundesbank will never accept these proposals, but the European authorities ought to take them seriously. The future of Europe is a political issue: it is beyond the Bundesbank’s competence to decide.

Entenderam? O euro, um projeto político, precisa ser salvo a despeito dos enormes problemas que causou. E, para tanto, faz-se necessário enterrar de vez o Bundesbank e partir para uma união fiscal. Era exatamente esta a intenção da elite europeia, especialmente a francesa, quando o projeto foi concebido! Enterrar o Bundesbank e o marco alemão, sintoma da força relativa deste país, e impor a criação dos Estados Unidos da Europa, comandados por Bruxelas e com influência francesa desproporcional ao seu poderio econômico.

Em um artigo para O GLOBO, eu expliquei melhor estas intenções na origem do euro:

O projeto que criou a moeda comum partiu das elites europeias, incluindo socialistas franceses que sonhavam com um meio para recuperar seu prestígio e influência. O principal objetivo era político: domar a Alemanha recém-unificada. A ortodoxia de seu banco central (Bundesbank) e as reformas conhecidas como “ordoliberalismo” transformaram o país em uma potência na região. A valorização do marco frente às demais moedas era uma constante humilhação para todos.

Se dependesse de gente como George Soros, os socialistas franceses teriam aquilo tão sonhado, qual seja, um banco central dócil e subserviente aos interesses políticos de curto prazo. A moeda comum acabaria representando, na prática, a socialização imposta na região. Mas para ter maior integração comercial, liberdade econômica e paz, não é preciso ter uma mesma moeda, tampouco um poder centralizado em Bruxelas. No afã de buscar esta união forçada, acredito que essa turma vai acabar com o oposto daquilo que deseja: a desintegração da zona do euro. O tempo dirá...

4 comentários:

Anônimo disse...

A última reforma trabalhista alemã foi feita pela esquerda em 2002 no governo Schroder. O que vc acha disso ?

Rodrigo Constantino disse...

Que não importa a cor do gato, desde que ele pegue o rato!

Na Nova Zelândia também foi a esquerda quem fez reformas LIBERAIS, colocando o país na rota do progresso. Beleza! Todos que defenderem reformas liberais contam com meu apoio.

Anônimo disse...

Gostaria que vc me explicasse o que ocorreu com a Irlanda. Entre 2002 a 2007, o PIB cresceu numa média de 5%. Entre 2003 a 2007, o país teve superávit fiscal e a dívida pública estava na faixa dos 30% do PIB. Como culpar o Estado de Bem Estar Social com uns indicadores destes ?

Rodrigo Constantino disse...

procure meu texto "como foi que um tigre celta virou um gatinho frágil", onde explico parte disso.