Rodrigo Adão *
Nos últimos dias tem ganhado força entre os cientistas políticos de Esquerda uma tese de que o movimento popular se aproxima do Fascismo simplesmente por se mostrar apartidário. Não permitir que partidos políticos e seus braços em movimentos sociais participem das manifestações não é Fascismo! Falar isso é perder o principal ponto das manifestações: quem saiu à rua mostrou sua indignação com a incapacidade do Estado em exercer seus diversos papéis constitucionais e esse Estado se encontra personificado nos partidos políticos que o geriram nos últimos 25 anos. Parece-me que todos são bem-vindos para compartilhar esta indignação nas manifestações, seja qual for a sua orientação política. Entretanto, a própria natureza da manifestação não permite que se tente mostrar apoio aos partidos que controlam o Estado – justamente o principal alvo de indignação. Apartidarismo era sim uma característica do Fascismo, mas está longe de ser uma condição suficiente.
Dito isso, compartilho de algumas das opiniões divulgadas por diversos cientistas políticos. Acho que sou tradicional nesse ponto, mas considero que a indignação com o Estado só vai se tornar mudança efetiva caso uma liderança seja capaz de transformar as reivindicações em uma agenda de reformas do Estado. Mais, esta agenda de reformas tem que considerar os custos e benefícios de cada medida. Não adianta clamar por educação, saúde e redução da corrupção sem propor medidas específicas. Por exemplo, mais recursos para educação básica poderiam ser obtidos com uma redução dos gastos em universidades federais, atingindo, em cheio, um benefício da classe média urbana. Ou ainda, poderiam ser obtidos com uma redução dos incentivos ao cinema e à música nacionais, atingindo a classe artística nacional que adora um lobby. Outro exemplo, melhor saúde passaria por reformar o sistema médico que permite que profissionais faltem plantões e suspendam consultas sem sofrer nenhuma punição efetiva. Só para completar, acabar com os benefícios esdrúxulos de diversas carreiras do judiciário não só ajudaria a tornar a justiça mais ágil (reduzindo corrupção), como liberaria recursos pra gastos sociais. Quero ver algum concurseiro de plantão concordar com essa última medida. A multidão nas ruas mostra sua insatisfação, uma liderança de qualidade concretiza suas demandas.
Para terminar me permito mandar dois recados. Aos manifestantes, eu digo: não existe almoço grátis. Qualquer mudança efetiva vai afetar benefícios de grupos específicos, sendo que alguns destes grupos estavam na rua nos últimos dias. Aos partidos atuais, eu digo: entendam a manifestação nas ruas e se conformem que não existe espaço para políticos tradicionais capturarem a sua liderança. Caso alguma liderança política seja capaz de emergir desde movimento, ela não vai sair dos partidos que estão no poder desde a democratização. Apesar disso, uma liderança que atue dentro do sistema politico atual será necessária para que o movimento não se perca no ar.
* Mestre em Economia pela PUC-Rio e estudante de PhD em Economia no MIT. As opiniões são do autor, não dessas instituições.
15 comentários:
Ótimas ideias. Lendo-as, pensei no alcance deste blog. Textos como esse devem ser divulgados em "timelines" por todo Brasil. Permitam o ctrl c + ctrl v, pois essas ideias e visões devem ir além.
Mais do mesmo: esse post teu vai mais ao encontro do que eu comentei no outro, a respeito do seu conservadorismo.
Constantino, o povo precisa de uma liderança sem passado político (e portanto, corrupto) para subir ao palanque e tentar, por meio da lógica, convencer de que nada melhor que uma reforma liberal para tirar o país da lama!
Rodrigo Constantino, o país precisa de vc! Grave um video estilo Vlogger do youtube e corra o risco de perder a sua credibilidade junto a nós, da escola austríaca, por um bem maior.
RODRIGO CONSTANTINO P/ PRESIDENTE!
Eu acho que a liberdade de expressão deve ser respeitada, pois querendo em algum momento devemos apontar nossa indignação para o verdadeiro responsável. Nossa sociedade. Todos foram votados democraticamente e pelo que vejo, tendo em vista que 0,5% da população, foi as ruas, temo que estejamos criando uma maioria que não existe. E quando uma minoria dita a moral e o que é certo e errado, já vimos na história onde isso chega.
teve um cartaz que deixaria Von MIses, e Bastiat com inveja de tal graça:"O governo gasta mais que minha mulher!!!"
Parabéns, Rodrigo! Graças a Deus que está entendendo o "espiríto das ruas".
Tem mais, se conseguirmos unir todas as tendências pensantes do Liberalismo, tenho certeza que surgirá um grupo fortissímo, já nas próximas eleições.
Agora, até o conservador Reinaldo Azevedo e o ultra conservador Olavo de Carvalho, também esta modificando um pouco suas realidades. O que falta é a união de todos nós, os liberais, conforme depoimento seu, Rodrigo.
Vocês têm, de algum modo, ceder um pouco nas idéias, firmar uma concordância em pensamento, só assim para vencermos esta esquerda podre!
Abs,
Altair Soares
Queria saber como o desgoverno vai fazer para evitar outros reajustes de tarifas (água, eletricidade, pedágios, etc), vão dar mais subsídios?
Estão numa sinuca de bico, você vê alguma saída Rodrigo?
Concordo em 99% do seu artigo, muito bem ponderado por sinal. Mas só o compartilharia se você alterasse o Judiciário pelo Legislativo que na minha opinião gasta muito mais e é muito menos eficaz.
obs: O texto não é do Constantino.
Sou apartidário , por isso eu só votei em PSDB/DEM/PFL nas últimas dez eleições.
PS: Não é sarcasmo, esses partidos são contra o Estado e logo são apartidários, porque os partidos representam o Estado, são os anti-partidos, é tudo muito claro...
Olá Rodrigo, tenho acompanhado tuas opiniões acerca dos protestos e vejo que você é uma das poucas vozes que ressaltam o que há de podre e perigoso em meio a uma massa um tanto romântica demais em matéria de política. Deixo aqui minha contribuição sobre o que ocorre em Porto Alegre na minha coluna do site cultural O CAFÉ: http://www.ocafe.com.br/2013/06/21/sai-do-facebook-e-vai-pra-rua/
Um abraço.
"Funcionário público neoliberal" é tipo assim: -"O Estado é ineficiente e corrupto, não podem haver mais funcionário públicos, a não ser é claro eu e meus amigos, porque nós sim temos mérito e direitos adquiridos."
PS: Não pode haver estado e empregos com estabilidade no setor produtivo, só no judiciário. Resultado: Ninguém mais quer trabalhar no setor produtivo, vide o exército de bacharéis em direito brasileiros.
Como melhorar a educação e a saúde?simples:corta os recursos destinados a corrupção e investe esses recursos na educação e na saúde
Rodrigo Adão, ótimo texto!
Artigo bom. Muito bom. Procura entender a coisa toda como um mecanismo, suspendendo, em parte, o julgamento moral (ou jurídico). Procurar oferecer pautas específicas onde elas são genéricas (mas respeitando seus limites). O julgamento moral é importante e não deve ser descartado, mas é pueril dizer que que quebrar vidro está errado, que fechar ruas está errado. Isso é discurso para o filho de três anos. Adultos precisam ir além disso, sem ignorar o erro na origem, mas tentando compreender os modos eficazes de correção.
o caminho da liberdade é a eterna vigilância! ideias boas postadas no dia 25. hoje 3 dias depois já vemos os oportunistas de plantão se movimentando. lulalá já reuniu "sua juventude" em um encontro em SP para "dar apoio" aos jovens, só que os que se fizeram representar fazem parte daquele grupo de seguidores do "grande mestre" (elio gaspari) e sempre receberam dinheiro do governo. até hoje a UNE não se manifestou. pudera, como pode aparecer se não explicaram onde esta os 46 milhões "doados" pelo lulalá para reconstrução da sede da entidade destruída pelo fogo na década de 70. jovens abram bem os olhos, pois os "vândalos" comandados por políticos já se infiltraram no movimento para desqualificar essa manifestação espontânea da nossa juventude. infelizmente não temos um líder que possa assumir o controle do movimento, pois todos os políticos estão, de uma maneira ou outra, comprometidos com o executivo. senador Lindberg (o eterno universitário e ex-UNE) esta lutando para ser governador do RJ, sem prestar contas à justiça dos "malfeitos" cometidos quando prefeito de Nova Iguaçu, município do RJ. joão barros
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