segunda-feira, abril 02, 2012

Ressurge a democracia

Editorial O GLOBO - 2 abril de 1964

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem.

Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos.

Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo. As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, "são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei. Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas.

Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo. A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social.

Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.

Comentário: Ao celebrar o resgate da democracia, o jornal claramente se equivocou, ou comemorou cedo demais. Sabemos que depois houve um golpe dentro do "golpe", e o regime militar se alongou por duas décadas de forma totalmente desnecessária. A democracia não foi salva. Dito isso, a importância do editorial está em mostrar, especialmente aos mais jovens que ignoram este fato, como havia aprovação popular aos militares que derrubaram Jango do poder. O clima no país era de caos total, as medidas do governo destruíram a economia e comunistas infiltrados se preparavam para um verdadeiro golpe que, aí sim, poderia colocar o Brasil na rota de uma ditadura cruel e opressora como a cubana, inspiração destes revolucionários.

10 comentários:

João disse...

O Brasil acabou nas mãos de umaditadura cruel e opressora, ainda que menos que a cubana, e que, de fato, Jango tenha dado um golpe antes dos milicos, praticamente pedindo para ser deposto. Faltou quem defendesse a democracia.

Anônimo disse...

Pois é Rodrigo!
Nada é por acaso. Sim houve um prolongamento, que voce diz ser golpe dentro do golpe. Para mim um excelente contragolpe! Ainda que tenham ocorrido excessos(e por acaso se os marxistas não tivesem ganho não ocorreriam excesso? Não sejamos tolos!)Pois se não tivesse ocorrido esse prolongamento (contragolpe)estaríamos amargando uma ditadura como Cuba. O Gabeira e outros desiludidos já revelaram.
Então, o Editorial não está tão deseixado assim.
Abraço

samuel disse...

Era empresário à época e estive na Escola Superior de Guerra no RJ. O militar que tinha idéias realmente democráticas era Castelo Branco, mas não idéias liberais. Esse foi o problema com os militares. Não conseguir compreender, como corporação, um regime de liberdade econômica onde a iniciativa privada fosse preponderante e o estado mínimo.
O regime militar foi duro? Prendeu? Arrebentou? Mas não o suficiente. Também não possuía ideologia liberal que justificasse isso em favor da sociedade.
O Brasil precisava e precisa ainda mais de uma reeducação liberal, uma reeducação que combata esta herança cultural latina do “grande pai”.
Hoje que conhecemos “ad nauseam” aqueles que os militares prenderam e “arrebentaram” me autoriza fazer a pergunta: Podemos condená-los?
ELES ESTAVAM CERTOS, MAS NÃO O SUFICIENTE.

Bruno Tôrres de Melo Rêgo disse...

Você pegou 1, um único, editorial de um jornal e fez dele a voz do povo. Você está de brincadeira, está tentando reescrever a História. Se o comunismo representava uma ameaça e o Jango extrapolava seus poderes, que fossem convocadas novas eleições democráticas imediatamente após o Golpe. A intenção dos militares não foi salvar a nação do Comunismo, mas sim tomar o poder. Demonize os comunistas o quanto quiser, mas não beatifique os militares que deram o Golpe e jogaram o Brasil numa sombria ditadura.

Anônimo disse...

Engraçado notar como em tão pouco tempo a cultura caiu tanto, o pessoal daquela época escrevia muito melhor do que os de hoje
Só dá pena da inocência do cara de achar que dali pra frente o brasil seria alguma coisa.E até que quase foi, mas depois...

Anônimo disse...

Como tem gente com problemas de interpretação, onde tem a beatificação dos militares no comentario do Rodrigo sobre o editorial de o Globo?

Anônimo disse...

Rêgo, antes de querer deixar a entender que o Globo foi o único jornal que entendia que a democracia foi salva pelos militares( hj vemos que de forma equivocada), procure por materias de outras fontes, tem um link sobre isso, lê aí:
http://geracaoai5.blogspot.com.br/2011/01/como-os-jornais-brasileiros-noticiaram.html

márcio disse...

O golpe teve apoio popular ? E daí ? O nazismo também. A Revolução Cubana também teve apoio popular. E idem na China e URSS.
Qual a evidência concreta de um golpe comunista em 1964 ? Quais organizações estavam envolvidas ? E por que os militares não seguiram a constituição e empossaram o presidente do congresso na época ? Se o jango era o problema, afastava ele e dava posse ao presidente do congresso, como em qualquer democracia. Mas quem assumiu foi uma junta militar e depois um general-ditador. Se vc conseguir responder essas minhas perguntas posso até mudar de idéia sobre o golpe de 64.
abs

Anônimo disse...

Bruno pelo jeito você só aprendeu o que professores de história esquerdistas lhe falaram no 2 grau. Olhe este site e aprenda um pouco sobra a verdadeira situação do país na época e sobre o "democrata" João Goulart: http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_20mar1964.htm

samuel disse...

Rodrigo, V é perseguido pela patrulha (provavelmente a soldo)
Li alguns comentários do Márcio e acho que ele se encaixa nesta categoria.
A perseguição é provavelmente pelo fato de V ser uma figura de destaque na luta liberal no Brasil.