quinta-feira, maio 23, 2013

A língua de Verissimo

Rodrigo Constantino

Em seu artigo de hoje, Luis Fernando Verissimo atacou novamente com seu complexo de vira-latas. Dessa vez o alvo foi a língua dos ianques, motivo de revolta de muito esquerdista que sofre de ufanismo boboca e antiamericanismo patológico. Eles babam de raiva com o uso de termos provenientes da língua de Shakespeare, levemente metamorfoseada pelos "estadunidenses".

Diz o simpático cronista de humor:

A invasão de americanismos no nosso cotidiano hoje é epidêmica, e chegou a uma espécie de ápice do ridículo quando "entrega" virou "delivery". Perdemos o último resquício de escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser "delivered" na porta.

Sério mesmo? Quer dizer que quando viajamos mundo afora e vemos em tudo que é vitrine a placa "sale", tais países perderam suas identidades nacionais? Quer dizer que quando falam em "fast food", venderam-se ao poderio do império norte-americano? Quanta bobagem! Verissimo ainda tenta se defender nesse trecho:

Isto não é xenofobia nem anticolonialismo cultural americano primário, nem eu acho que se deva combater a invasão com legislação, como já foi proposto. O inglês, para muita gente, é a língua da modernidade. Todos queremos ser modernos e, nem que seja só na imaginação, um pouco americanos. E nada contra quem prefere ser "plus" a ser mais e ter "size" em vez de altura ou largura. Só é triste acompanhar esta entrega - ou devo dizer "delivery"? - de identidade de um país com vergonha da própria língua.

Imagina se fosse xenofobia! O que Verissimo ignora é que o inglês, tal como o latim no passado, serve para facilitar a comunicação entre povos diferentes, para universalizar certos termos e tornar a compreensão mais simples. Se você fala inglês, você pode ler livros de alemães, franceses, italianos, chineses, árabes, todos traduzidos nessa língua "universal". 

Talvez o problema seja de quem é a língua, não o fato de todos usaram expressões de uma língua em comum. Se fosse o Esperanto, tenho certeza que a reação seria outra, e o papo de "colonialismo cultural" seria rejeitado como baboseira de gente senil. Que colonialismo cultural é esse que aproxima tantas culturas diferentes?

Por fim, posso apostar pesado que Verissimo não implica com expressões afrancesadas em nossa língua, tal como "abajur", "filé mignon", etc. Quando a palavra vem da França, capital mundial da gauche caviar, aí é não só aceitável, como "chique". Como disse Nelson Rodrigues: “Reparem como o sujeito que fala em francês e pensa em francês toma ares de gênio e de infalibilidade”.

Logo, o problema de Verissimo e demais ícones da esquerda caviar não é com o uso de "delivery" em vez de "entrega"; é com os Estados Unidos e o que essa nação representa (ou representou?) em termos de modelo de sociedade, capitalista liberal e com foco no indivíduo, ao contrário do coletivismo das esquerdas. Verissimo, quando fala de política, só escreve besteira, seja em português, em inglês ou em francês...

17 comentários:

Diogo R Santos disse...

Rodrigo

Concordo contigo quanto ao sentimento de "anti-americanismo de araque" do Veríssimo. Entretanto, precisamos ser honestos, há muita terminologia em inglês que é usada sem necessidade, principalmente nas áreas de publicidade e de vendas.

É claro que o inglês tem sua devida importância no mundo corporativo - eu mesmo uso bastante ele no meu emprego - uma multinacional sueca, mas é irritante ver tanto uso do inglês, quando se tem um bom termo em português....

Unknown disse...

Veríssimo é o nosso "comunista do Leblon", sempre em companhia de Chico Buarque (em Paris, escrevendo seu novo sucesso...) e outros. Comunista do Leblon em geral é primo do cineasta da Vieira Souto....

Anônimo disse...

Engraçado, eu não fico irritado e nem deixo de tecer críticas a quem quer que seja, mesmo quando for aos EUA.
Quanto ao "disfarçado" Veríssimo, ele já viu uma foto, verdadeira, do Che Guevara tomando Coke? (que falta de convicção, hein!) ou Coca-cola, como quiserem, tanto faz! O negócio é bom demais, bem geladinha!
DESCASO COM A LÍNGUA E COM O PAÍS, SR VERÍSSIMO, É CAÇAR MONTEIRO LOBATO, É INCENTIVAR NOIS PEGA O PEIXE, É
DIZER QUE LER NÃO É IMPORTANTE, É DEIXAR CHEGAR A NOSSA EDUCAÇÃO A UM
NÍVEL RIDÍCULO, É UM ENEM, e por aí vai. O resto todo mundo sabe!
Eu prefiro balbuciar, imitar, vez ou outra, uma palavra estrangeira, o que não me incomoda nem me submete a ninguém, do que pedir para alguém lá de fora imitar o que esse Governo vem fazendo com o nosso pobre País.
Odilon Rocha, de João Pessoa

Marcus Prado disse...

Boa tarde Rodrigo,

Aí eu pergunto: será que se a falecida União Soviética tivesse ganho sozinha a segunda guerra mundial, e exercido sua influência política, econômica e cultural (???)sobre o resto do mundo, e hoje estivéssemos escrevendo o alfabeto cirílico ou falando o belíssimo idioma russo (ARGH!!!), o senhor Veríssimo, assim como toda as esquerdas, a caviar, os PTralhas, os comunistas-socialistas-marxistas-leninistas-stalinistas estariam mais felizes ???

Essa gente não tem jeito mesmo...

Abçs !!!

Jozu disse...

Concordo com o que foi dito aí acima. Esse anti-americanismo é burro e não compreende que o inglês chega a ser até uma das línguas mais simples do mundo, portanto útil a se tornar um vernáculo mundial. Porém, é burrice nossa fazermos uma substituição tão grotesca e forçada das nossas palavras em português por termos em inglês. Muitas vezes é desnecessário e fica até feio. (quando não fica errado) Coisa de quem fala inglês "more or less" e acha que mesmo falando mais ou menos ainda fala certo. Valorizar o idioma pátrio é dever de todos! É nossa identidade. Podemos fazê-lo, sem no entanto, termos de tomar asco do inglês, e demonizá-lo como fazem os bolivarianos do PT.

Renan Santos disse...

O Sr. Veríssimo - que de verdadeiro tem só o nome - ignora que a quase totalidade das palavras da nossa língua também veio de fora, mais especificamente do latim e do grego.



Vinicius disse...

"Imagina se fosse xenofobia! O que Verissimo ignora é que o inglês, tal como o latim no passado, serve para facilitar a comunicação entre povos diferentes, para universalizar certos termos e tornar a compreensão mais simples. Se você fala inglês, você pode ler livros de alemães, franceses, italianos, chineses, árabes, todos traduzidos nessa língua "universal"."


Perfeito, exatamente!
Viva a globalização!!!


Anônimo disse...

pelo amor de deus, estrogonofe vem do russo, não do francês.

Rodrigo Constantino disse...

fato, corrigi.

Anônimo disse...

Enquanto o esperanto não decola...e não vai ser nunca...nos viramos com inglês

Vânia Luz disse...

Concordo com o 1º comentário, do Diogo R Santos, a partir do 2º período de sua escrita/argumentação...

IvanFR disse...

Na verdade, a "internacionalização" do inglês se deve mais à facilidade da língua (é considerada por linguistas uma das línguas mais fáceis de se aprender, especialemnte pela pouca variação de conjugação dos verbos) do que ao "imperialismo" norte-americano.

Uma língua como a alemã ou mesmo a língua portuguesa jamais serão "internacionais" pela dificuldade de aprendê-las e até de pronunciá-las (para quem não é nativo claro).

Gabriel Sperandio disse...

Uma língua nacional ser universal privilegia os falantes da tal língua. O inglês parece fácil em função da exposição que temos a tal língua. Mas tem que aprender uma para escrever e outra para falar. Ou, inocentemente, depois de aprender podemos tropeçar numa expressão linguística estadunidense (nada contra o pessoal de lá, só não vejo gentílico melhor).
O esperanto poderia cumprir bem esse papel. Além de tudo, é fácil e permite pensar na língua de origem. Mas sabe-se lá porque isso não emplaca.
Não acho que o inglês ser língua ponte ao longo do mundo seja uma afronta à liberdade individual, mas acho desconfortável ser uma língua nacional. Mesmo assim, acho muito bom que tenha uma língua com esse papel.

Guinevere disse...

Me encanta tu texto.

Gabriel disse...

Ninguém escolheu o inglês. As pessoas simplesmente se tocam que vale a pena falar as línguas dos países importantes, simples assim. Os EUA estão aqui do lado, exportam cultura e tecnologia pro mundo inteiro. Não precisam impor a língua, a gente é que seria burro de não querer aprender. Foi assim com o latim antigamente. Lá na Europa o pessoal aprende as línguas dos países próximos, se julgarem necessário. E daqui a algumas décadas, vamos ter gente por aqui mesmo aprendendo Chinês, que nos parece complicado e alienígena hoje. E o esperanto vai continuar na mesma, porque essas coisas não são escolhidas por ministros, comitês ou seja lá o que for.

André Lima disse...

Para ter sido coerente, ele devia ter pedido a entrega de um disco de pasta assada ao molho de tomate.

Anônimo disse...

É graças ao meu inglês, mesmo capenga, que consigo me locomover com certa desenvoltura por toda a Europa. Com a globalização, é essencial uma linguagem comum a todos os povos, e o inglês é de fato e de direito essa linguagem.

Paultruc