segunda-feira, maio 06, 2013

Pedagogia do crime


Percival Puggina

A primeira e principal lição foi sendo ministrada aos poucos. Era difícil, mas não impossível. Tratava-se de fazer com que a sociedade ingerisse enrolada, como rocambole, a ideia de que a criminalidade deriva das injustiças do modelo social e econômico. Aceita essa tese, era imperioso importar alguns de seus desdobramentos para o campo do Direito. Claro. Seria perverso tratar com rigor ditas vítimas da exclusão social. Aliás, a palavra "exclusão" e seu derivado "excluído", substituindo "pobre" e "pobreza", foram vitais para aceitação da tese e sua absorção pelo Direito Penal.

Espero ter ficado claro aos leitores que a situação exposta acima representa uma versão rasteira da velha luta de classes marxista. Uma luta de classes por outros meios, travada fora da lei, mas, paradoxalmente, sob sua especial proteção. Por isso, a impunidade é a aposta de menor risco desses beligerantes. Por isso, no Brasil, o crime compensa. Por isso, também, só os muito ingênuos acreditarão que um partido que pensa assim pretenda, seriamente, combater a criminalidade. Afine os ouvidos e perceberá o escandaloso silêncio, silêncio aliás de todos os poderes de Estado sobre esse tema que é o Número Um entre nós. Ou não?

Portanto, olhando-se o tecido social, chega-se à conclusão de que o grande excluído é o brasileiro honesto, quer seja pobre ou não. O outro, o que enveredou para as muitas ramificações do mundo do crime, leva vida de facilidades sabendo que tem a parceria implícita dos que hegemonizam a política nacional. Nada disso estaria acontecendo sem tal nexo.

Viveríamos uma realidade superior se o governo construísse presídios, ampliasse os contingentes policiais e equipasse adequadamente os agentes da lei, em vez de gastar a bolsos rotos com Copa disto e daquilo, trem bala, mordomias, comitivas a Roma e por aí vai. Viveríamos uma realidade superior se o Congresso produzisse um Código Penal e um Código de Processo Penal não benevolentes, não orientados para o descumprimento da pena, mas ordenados à sua rigorosa execução. Viveríamos uma realidade superior se os poderes de Estado incluíssem entre os princípios norteadores de suas ações a segurança da sociedade e os direitos humanos das vítimas da bandidagem. Viveríamos uma realidade superior se o Direito "achado nas ruas", que inspira ideologicamente a atuação de tantos magistrados, fizesse essa coleta nas esquinas, mas ouvindo os cidadãos, os trabalhadores, os pais de família, em vez de sintonizar a voz dos becos onde a criminalidade entra em sintonia com a ideologia.

O leitor sabe do que estou tratando aqui. Ele reconhece que, como escrevi recentemente, já ocorreu a Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Perdemos a guerra. O crime já venceu. Estamos na fase de requisição dos despojos que devem ser entregues aos vencedores.  Estamos pagando, em vidas, sangue e haveres, a dívida dos conquistados. Saiba, leitor, que a parcela da esquerda que nos governa há mais de duas décadas, mudando de nome e de pêlo, mas afinada, em tons pouco variáveis pelo mesmo diapasão ideológico, está convencida de que se trata disso mesmo. É a luta de classe por outros meios e com outros soldados. Queixemo-nos ao bispo, se o bispo não cantar na mesma toada.

É a pedagogia do crime. Ela já nos ensinou a não reagir. Ela já nos disse que a posse de armas é privilégio do bandido. Ela já advertiu os policiais sobre os riscos a que se expõem ao usar as suas. Ela já nos mostrou que não adianta reclamar: continuaremos sem policiais, sem presídios, sem uma legislação penal que sirva à sociedade e não ao bandido. Isso tudo já nos foi evidenciado. Trata-se, agora, de entender outras ordens do poder fora da lei. Devemos saber, por exemplo, que esse poder se enfurece quando encontra suas vítimas com tostões no bolso. O suposto direito nosso de carregarmos na carteira o dinheiro que bem entendermos confronta como o direito dos bandidos aos nossos haveres. Por isso, cada vez mais, agridem, maltratam e executam, friamente, quem deixa de cumprir seu dever de derrotado. Tornamo-nos súditos, sim, não do Estado brasileiro, mas daqueles que tomaram a Nação para si. Seja um bom discípulo da pedagogia que a esquerda nos proporcionou. Não desatenda as demandas dos bandidos. O leão da Receita é muito mais manso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Boquiaberta com o material de apoio suerido pela SEEDUC/RJ para se trabalhar com alunos do 8º do ensino fundamental>>>> segue: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich.
O
Manifesto do Partido Comunista
.
Petrópolis: Editora Vozes,
2000. (
http://www.culturabrasil.pro.br/manifestocomunista.htm
consultado em 06/03/2012 às
16h15.)
Escrito por
Karl Mar
e
Friedrich Engels
, o livro faz uma dura crítica ao modo de produção capitalis
-
ta e à forma como a sociedade se estruturou através dele.
O texto aborda ainda a questão do surgimento do efêmero, marca de nossa vida contemporânea.
Obra de Referência:
HOBSBAWM, Eric J.
Cap.2: A Revolução Industrial
. In:
A era das revoluções: 1789-1848.
São Paulo:
Paz e Terra, 2010. (
http://www.ceunes.ufes.br/downloads/2/apmorila-HOBSBAWM,%20Eric%20
J..%20A%20Era%20das%20Revolu%C3%A7%C3%B5es.pdf
consultado em 4/03/2012 às 13h)
Neste capítulo, Eric Hobsbawm observa que a transformação na produção e no mundo do traba
-
lho tem o seu ponto de partida na Grã-Bretanha da década de 1780. No entanto, esta revolução
que tem seu início num tempo e lugar definido não tem ponto final estabelecido, ela ainda não
está completa. O autor analisa o desenvolvimento e as consequências desta transformação no
mundo do trabalho que ficou conhecida pelo nome de Revolução Industrial.
Mônica Itaperuna /RJ

Anônimo disse...

Em estado de apoplexia com a sugestão de apoio pedagógico da SEEDUC/RJ para o 9º ensino fundamental>>>>>>segue: Diários de Motocicleta
(Brasil/EUA/Peru/Chile/Inglaterra/Argentina) Direção de Walter Salles. 2004, 128 minutos.
Conta um capítulo da História da América, nos anos 1950, a partir do olhar de dois jovens
libertários argentinos, Ernesto Guevara, então estudante de medicina, e Alberto Granado. Os
amigos percorreram países da América do Sul. É um relato crítico e emocionado do que viram.
2.
Buena Vista Social Club
(Alemanha/EUA/Reino Unido/França/Cuba) Dirigido por Win Wen
-
ders. Produtora Spectra Nova, 1999, 100 min. O documentário recupera a experiência de reu
-
nir grandes nomes da música cubana dos anos 1969 e 1970. Há imagens históricas de Havana.
Obras de referência:
1.
MARX, Karl.
O Capital: crítica da economia política.
Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasilei
-
ra, 2011. 29ª Edição. (p. 427 – 571) No Capítulo 3, intitulado “O Desenvolvimento da Maquina
-
ria”, Marx tece uma minuciosa análise do processo de mecanização da economia, analisando
suas implicações econômicas, seu impacto no mundo do trabalho e a criação de novos valores.
2.
A
ARÃO Reis, Daniel. FERREIRA, Jorge. ZENHA, Celeste. (Orgs.)
Século XX, o tempo das dúvi
-
das: do declínio das utopias às globalizações.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. Vol.3.
A obra traz dois artigos em o historiador Daniel Aarão Reis analisa dois momentos da História
do Socialismo: o apogeu e crise e desagregação.
3.
http://www.historia.uff.br/nec

No que se refere à China, o Núcleo de Estudos Contemporâ
-
neos da UFF apresenta, na série “Grandes Processos”, um artigo sobre os rumos da China do
tempo presente. O artigo “O Império de volta ao meio: ascensão econômica chinesa, desafios
e perspectivas para o século XXI” analisa as estratégias implementadas para reerguer econo
-
micamente o país. O site traz ainda um link com “Filmografia” sobre o século XX e XXI
4.
http://www.afroasia.ufba.br

O site da Revista Afro-Ásia, publicado pelo Centro de Estudos
Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) permite o acesso a textos sobre China.
Um dentre os artigos é assinado por W.A.C.H. Dobson, “China: passado e presente”, à disposição
em PDF. O autor aponta para a ascensão de novas forças no Oriente, que em meados do século
XX cresciam sem serem notadas pelas potências do Ocidente.
Mônica -Itaperuna RJ