segunda-feira, novembro 30, 2009

Presente de Grego



Rodrigo Constantino

A revista VEJA desta semana tem uma matéria sobre o livro Scroogenomics, do economista americano Joel Waldfogel, bem interessante. Em todo Natal bilhões de dólares são destruídos no mundo todo. "A cada dezembro, presentes ruins transformam em pó algo em torno de 25 bilhões de dólares ao redor do mundo", diz. "Isso faz do Natal uma das mais formidáveis máquinas de destruição de valor já criadas pela humanidade". Eis a passagem que merece destaque:

"A ideia central de Waldfogel tem a ver com o conceito de valor – que é diferente do de preço. O valor de um produto tem algo de subjetivo. Está relacionado à satisfação que ele proporciona. Um gasto é bom para o consumidor final quando a satisfação obtida com o produto excede o preço pago. Na situação inversa, destrói-se valor. Embora às vezes a percepção de nossos próprios interesses possa ser turvada, de maneira geral, diz Waldfogel, quando saímos de casa para comprar uma roupa ou um CD, sabemos escolher direito. Mas, quando outras pessoas escolhem por nós, a relação entre valor e preço fica negativa."

Desde Carl Menger sabemos que o valor é subjetivo. Esse é um dos pilares mais importantes da Escola Austríaca, fundada por Menger. Partindo dessa lógica, fica até bastante óbvio concluir que presentes de Natal acabam destruindo valor. Afinal, o preço pago por quem compra o presente dificilmente será equivalente ao valor extraído por quem o recebe. Se a própria pessoa pudesse escolher, usando a mesma quantia, sem dúvida saberia melhor o que ela mesma prefere. Por isso os "vale-presentes" estão ficando mais comuns, apesar de parecerem mais "frios".

"Dar dinheiro seria mais simples, mas na maioria dos países há um estigma associado aos presentes em dinheiro. Em certas situações, eles são considerados até mesmo rudes", diz Waldfogel. Mas isso não muda o fato de que seria mais eficiente, do ponto de vista do valor gerado para a sociedade.

Faltou apenas à reportagem concluir o óbvio, indo além na mesma lógica: não apenas presentes de Natal destroem valor, mas - e principalmente, os gastos públicos são as verdadeiras máquinas de destruição de valor! No caso do presente, ainda temos a boa intenção de quem compra, que conhece o beneficiário e deseja agradá-lo. Mesmo assim não há garantia de sucesso. Mas no caso dos gastos do governo a situação é muito pior. Não só quem gasta não se importa muito com quem supostamente recebe os benefícios dos gastos, como não é ele quem paga a conta.

Os gastos do governo são problemáticos justamente por esta característica: governantes vão às compras usando o dinheiro da "viúva", retirado na marra, sem consentimento, e não estão muito preocupados com os benefícios gerados por tais gastos. Não são santos, afinal de contas, mas indivíduos que buscam a satisfação de seus próprios interesses. Na verdade, existe um grande incentivo à corrupção, quando governantes gastam o dinheiro dos outros com si próprios. Até um carro oficial para levar uma cadela sozinha pode resultar disso!

Se o presente de Natal pode ser ruim para a economia, como tenta mostrar Waldfogel, imagine o grande presente de Grego que é o gasto público!

5 comentários:

José Carneiro da Cunha disse...

Tenho algumas dúvidas a respeito dessa idéia.
Dado que o importante é o nível de satisfação total gerado pelo consumo dos serviços prestados pelo bem, dividiria o caso do presente em duas etapas:
i) O benefício marginal auferido pelo comprador do presente por dar o presente; e,
ii) O benefício marginal do ganhador do presente .
Como benefício marginal do consumo iguala o preço, nesse caso o dos serviços prestados pelo produto/serviço, não há necessidade do bmg do ganhador ser igual ao preço. Nesse caso, temos que o necessário para uma alocação ótima de recursos seria:
Bmg daquele que presenteia (1) + bmg do ganhador do presente (2) = preço (cmg) (3).
Bem, nessa situação não há garantias de que, do ponto de vista social, teríamos uma melhora de Pareto, ou mesmo de bem estar total, caso substituamos o presente espécie pelo presente dinheiro.
É provável que para aquele que dá o presente o bmg de presentear em espécie é maior do que o de presentear em dinheiro. Nesse caso, não há melhora de Pareto e, se o mercado de presente é eficiente, migrar para o presente em dinheiro poderia reduzir o nível de eficiência da economia.

Abs

José Carneiro

Anônimo disse...

A escolha do presente pode ser vista como uma mensagem com valor tanto para o doador quanto para o recebedor, tanto no caso de bons quanto maus presentes. O valor da mensagem é inexistente quando se dá dinheiro. É por isso que o ato de dar presentes nunca será totalmente substituído pelo ato de dar dinheiro. E é por isso que não se paga professionais com presentes: professionais estão pouco se lixando para a mensagem, querem apenas a compensação.

Felipe Santos disse...

Exceto pela palavra "professionais" que o certo seria "profissionais", concordo plenamente com o texto do Pedro Albuquerque... contudo o que eu não ACHO muito bom é estipular datas (como o Natal) para dar presentes... cheira a "artificialismo", anulando (em alguns casos) o "fator mensagem" do presente...

Por outro lado, eu não sei se lembraria de comprar presentes não fossem essas datas... talvez porque eu mesmo não me importo em receber presentes, já que geralmente não acertam meus gostos... prefiro dinheiro pra eu mesmo ir lá comprar (ou guardar)!!! :-)

Nilo disse...

Acredito que o benefício do presente, a data da compra e o preço devem ficar a cargo das pessoas envolvidas na transação. Não se deve interferir na liberdade de cada um de presentear ou não, cada um deve fazer oq quiser desde que de forma lícita.

fejuncor disse...

Isso quando vc "RECEBE" o presente, se ele não é roubado...