terça-feira, novembro 10, 2009

É preciso cuidado com as perspectivas dos especialistas

Rodrigo Constantino, Valor Econômico (10/11/2009)

Quando uma autoridade como Ben Bernanke comenta sobre a situação da economia, o mundo financeiro abandona qualquer tarefa para escutar com atenção. Se isso se deve ao fato de que a opinião do "todo poderoso" chairman do Fed determina as políticas de juros do banco central americano, faz sentido. Afinal, as escolhas do Fed afetam toda a economia mundial. Mas se a profunda atenção ao que Bernanke pensa sobre a economia se deve a uma crença ingênua de que ele desfruta de alguma capacidade premonitória superior ao mercado, isso pode ser muito arriscado.

Em maio de 2007, Bernanke declarou que esperava um efeito limitado no setor imobiliário dos problemas com o "subprime". Disse ainda que não acreditava num contágio significativo para o restante da economia ou para o sistema financeiro. O índice de ações S&P 500 estava então próximo aos 1.500 pontos e perderia metade de seu valor nos meses seguintes. Quem confiou em Bernanke como guru financeiro acabou quebrando a cara. Ele detinha mais informações que a maioria dos agentes de mercado. No entanto, isso de nada adiantou na hora de prever o futuro da economia.

Antes de Bernanke, quem ocupava a poderosa função de "maestro" da economia americana era Alan Greenspan. Mas Greenspan tampouco se saiu melhor quando o assunto é acertar o destino da economia. Em 2007, ele alertou para alguns riscos no setor imobiliário, que ele ajudou a criar com sua política frouxa de juros. Greenspan falou em "sinais de espuma" no setor em algumas áreas localizadas. Mas ele rejeitou os temores de alguns analistas quanto a um possível estouro de uma bolha nacional. Quem apostou suas fichas na suposta sabedoria de Greenspan não teve muito o que comemorar.

Um ex-governador do Fed, Laurence Meyer, escreveu um livro chamado "A Term at the Fed", onde conta sua experiência dos anos em que trabalhou no banco central americano. Meyer confessa que o Fed não sabia exatamente onde a economia estava ou para onde estava indo. Em certa ocasião, após o primeiro aumento na taxa de juros depois de dois anos, Meyer foi honesto ao afirmar que "nenhum de nós do Fomc sabíamos o que aconteceria em seguida". O Fomc é o comitê que decide a taxa de juros básica da economia, como o Copom no Brasil. O próprio Meyer chamava sua equipe de "o templo", em parte pela obscuridade do processo decisório. Será que Greenspan ou Bernanke deveriam ser tratados como oráculos da economia?

Quando veio finalmente a crise atual que abalou o mundo, um dos especialistas mais demandados pela imprensa foi Paul Krugman, recente Prêmio Nobel de Economia. Mas será que o histórico de acertos passados de Krugman impressiona? Durante a crise proveniente do estouro da bolha do Nasdaq, Krugman sugeriu um forte estímulo fiscal e monetário como solução, chegando praticamente a recomendar uma nova bolha. Se o Fed fosse agressivo o suficiente - e ele foi, mantendo as taxas de juros artificialmente reduzidas, então o preço dos ativos, como as casas -, poderia subir e estimular o consumo. Foi justamente o que aconteceu. No entanto, a recente crise demonstrou como tal política era insustentável. Não obstante, Krugman pede como solução para a crise atual a mesma receita que falhara antes. Será que devemos confiar em sua suposta sabedoria ímpar?

No fundo, o que está em jogo é aquilo que outro Prêmio Nobel, o economista austríaco Hayek, chamou de "pretensão do conhecimento". A economia é um fenômeno complexo, que sofre a influência de infinitas variáveis. Foge à capacidade de qualquer um o poder de conhecer todas as informações relevantes. Pior ainda é crer na possibilidade de prever o futuro de forma acurada.

Mesmo partindo da premissa de que o especialista é a maior autoridade no assunto, possui o máximo possível de dados importantes coletados e realmente coloca o bem comum acima de uma agenda pessoal, seria temerário supor que ele é capaz de antecipar com razoável precisão o futuro da economia. A situação piora quando lembramos que esses especialistas são humanos, demasiado humanos, e podem ter outros interesses particulares em mente.

Portanto, todo investidor deveria redobrar sua cautela quando escuta a previsão econômica de algum especialista. É provável que esta autoridade no assunto não tenha uma capacidade muito superior de antecipar o futuro. O mesmo Bernanke tem repetido agora que o pior da crise já passou e a recuperação é para valer. Será que devemos apostar nossas fichas com base nesta previsão?

Rodrigo Constantino é economista e gestor de recursos

6 comentários:

Claudio disse...

Rodrigo, uma sugestão: que tal um RSS feed no seu blog para notificar os seus leitores de novos posts?

Thomas Miller disse...

Claudio, o feed ja' existe. Tudo que precisas fazer e' copiar o link e colocar no Google Reader (se e' este reader que estas usando).

Rodrigo, muito bom teu artigo. Acho incrivel como "especialistas" acham que tem um conhecimento tao vasto que sao capazes de achar que sabem, ou melhor, ditam o futuro enquanto na verdade nao ha' nenhuma maneira, nenhuma formula e nada no passado que indique os acontecimentos no futuro.

Nao sei se ja leste, mas recomendo "O Cisne Negro" (The Black Swan), de Nassim Nicholas Taleb. Ele trata deste assunto.

Continue com o bom trabalho!

ntsr disse...

O Peter Schiff acertou...

Rodrigo, anda ficando famoso pela net um vídeo chamado money as debt
http://www.youtube.com/watch?v=vVkFb26u9g8
vc poderia comentar depois?Valeu

Vitor Roma disse...

Rodrigo, faltou dizer ter uma montanha de dados e informações é de muita pouca valia se não há uma real compreensão dos fenômenos econômicos fundamentados na ação humana.

Para exemplificar o que eu falei, é só lembrar do que chamo "Bizarro Caso Mises/Samuelson". Mises em 1922 previu que o Socialismo não iria dar certo, enquanto Paul Samuelson, um notório positivista viciado em dados, estatísticas, equações e curvas de gráfico, publicou um livro em pleno 1989, poucos meses antes da queda do muro, onde dizia que a situação econômica da União Soviética era perfeitamente viável.

Então temos um economista em 1989,onde já havia milhares de relatos sobre todas as deficiências do Socialismo, afirmando coisas estaparfúdias porque simplesmente lhe faltava uma compreensão real do que é economia, que para ele não passava de uma espécie de matemática da riqueza. Enquanto Mises, com um incrível entendimento dos fenômenos econômicos, pôde "adivinhar" 1989 melhor que alguém que viveu na época.

Everardo disse...

Você está coberto de razão, Rodrigo. O Sr. Bernanke é ouvido porque está com o painel de controle na mão e, assim, pode determinar o “futuro”. Por mais que se queira negar, são os controles monetários e fiscais que negam a existência do tal livre mercado (ou livre economia).
Estamos numa era de revisão de conceitos filosóficos, que comporta o questionamento sobre a eficácia dos antigos remédios. Assim como o comunismo não passou da utopia, o liberalismo dá mostras de que não conseguiu ser experiência real em nenhum lugar do mundo.
O capitalismo imaginou ter encontrado a “essência”, os princípios (mão invisível) filosóficos das coisas. Mas essa lógica embute uma trapaça: a manipulação.
Como você mesmo admite, somos humanos. As leis sociais não são regidas pelos mesmos princípios das leis naturais, como imaginavam os pais do método científico. O que nos prende a certos conceitos ainda é a tal da certeza positivista.

Rodrigo Constantino disse...

Everardo, o GOVERNO manipula as taxas de juros, CAUSA uma bolha, e vc vem falar que o LIBERALISMO falhou tanto quanto o comunismo?!?!

Vc é candidato a algum cargo de palhaço, por acaso?