terça-feira, abril 24, 2012

As fraturas da vida

Dr. José Nazar *

Felicidade, isso não existe! As religiões, as neuroses, as drogas, os bens materiais em excesso, tudo isso são artifícios para que você possa continuar vivendo às custas do esquecimento de uma dor, que é própria de sua vida. Desde que nasce, o ser humano é marcado por uma fratura, aquela que é sua marca originária e que ditará sua maneira particular na vida.
Isso lhe causa horror e, por isso, você se defende alimentando-se de amargas ilusões.
Qual é o seu grande medo? Você não quer saber que a morte é real! Por isso mesmo, você se arma, se engana, constrói roupagens para se proteger do medo que esse encontro poderia lhe causar. Isso dificulta sua relação com o desejo.
A realidade é traumática demais. Você utiliza, como proteção, toda sorte de fantasias. Frente ao vazio da existência, você responde a partir de suas fraturas internas, suas crenças excessivas, seus sintomas, suas angústias, suas feridas internas.
Por mais que corra de si mesmo, se refugiando no casulo de seu espelho narcísico, você será marcado por uma divisão na alma, no mais íntimo de seu ser.
A única saída para o humano é tentar se reconciliar com as perdas operadas na vida e procurar aproximar-se de seu desejo, reduzindo danos.
Diante da miséria que o habita, você se reconstrói a partir de um mito individual, para poder se suportar um pouco mais. Suas ilusões são mecanismos para você continuar se enganando frente a espelhos viciados de um amor narcísico. Você foge de quê?
O ser humano é feito de fraturas, de altos e baixos, alegrias e tristezas, sucessos e fracassos. Desde que nasce, ele já carrega uma nuvem de sentimentos alternantes, numa verdadeira bi-polaridade. Isso tem a ver com a historicidade familiar de cada um, seus traumas que determinam lembranças agradáveis e ou desagradáveis.
Você tem como saída possível refletir sobre si mesmo, para tornar sua vida menos pior. Pode ser que seja bem sucedido e viva melhor, pode acontecer que você sucumba às suas próprias emoções desconhecidas, e isso leva ao pior!
No aqui e agora ou num futuro próximo, você vai se defrontar com a mordida do lobo. Ninguém escapa da mordida do lobo, que são as fraturas da vida! Isso é certo e seguro. Todo e qualquer ser humano carrega, no mais íntimo de seu ser, uma perda, que é vivida como uma mordida, um arranchamento das garantias e certezas. Somos doentes por natureza, o que permite fazer história. O problema é saber se a fratura é interna ou externa, encoberta ou a céu aberto. Eis a questão! A escolha desse título é intencional, porta um duplo sentido. Por um lado diz que todo ser humano é fraturado e, por outro, aponta para a seguinte questão: a vida encontra sua possibilidade a partir de um corte na carne do sujeito, que o traumatiza. No entanto, estas mesmas fraturas lhe dão vida. Mas, o que é que fratura? São os ditos dos pais, suas boas ou más palavras, isto é, tanto as ditas quanto as silenciadas.
É isso que a psicanálise veio demonstrar: o ser humano é descentrado dele mesmo, o sexo é traumático e, por isso, gera fraturas que não permitem a você estar em paz consigo mesmo e com seus semelhantes. A felicidade não existe... o que há são alguns momentos de alegrias.
O sujeito humano não quer aquilo que deseja. Essa é sua depressão fundamental, a fratura não lhe permite estar em paz, nem consigo nem com o outro!

* José Nazar é psiquiatra e psicanalista (Escola Lacaniana de Psicanálise).

14 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho estranho esse comentário partindo de um psicanalista.

É claro que a felicidade existe e pelo menos eu sou uma prova viva disso.

Confesso que meu estado de graça começou depois dos 40 anos de idade mas tive que fazer psicoterapia dos 36 aos 40 anos.

Dos 40 anos para cá (estou com 48) venho constantemente prestando atenção às minhas emoções e sentimentos.

É claro que não sinto nada daquilo que chamam de felicidade ou acham que é mas pelo menos já desmontei em mim muitas emoções e modus pensandis que me afligiam a existência.

Por isso, posso definir felicidade como ausência de infelicidade.

A felicidade eu não sei o que é mas acho que é o estado natural do homem quando este, liberto de suas neuras, não se sente mais em conflito consigo mesmo.

Anônimo disse...

Rodrigo Rodrigo...eu falo por mim mas imagino que muitos outros aqui não estão interessados se esse desgraçado encontrou a felicidade dele.A vida já é ruim o suficiente,já tem problemas demais, pra que piorar dando atenção pra esse povo com essa dor esse drama mexicano que eles inventam?

Anônimo disse...

eu nao venho pra esse blog procurando por essas frescuras

amauri disse...

Bom dia Rodrigo!
Quem conhece os quatro discursos de Aristóteles, sabe o que quer dizer:
o referido artigo é no máximo um discurso poético. abs

Bruno De Cnop disse...

Ó vida, ó céus, ó Nazar...

Com toda certeza ele pariu este texto numa segunda-feira, de ressaca e engarrafado na ponte Rio-Niterói.

Anônimo disse...

He, he...

Sou o autor do primeiro comentário.

Não tive coragem de dizer qual era a solução para a infelicidade que o autor do artgo descreve mas acho que, como ninguém falou, eu falarei a agora.

A incapacidade de uma pessoa ser feliz está justamente na sua falta de egoismo.

Quando ela está, por exemplo, jantando ou almoçando lá vai seus pensamentos para os pobrezinhos passando fome na África e com isso sente-se mal.

Quando ganha dinheiro fica pensando naqueles coitadinhos que não ganham nada e sente-se culpado por ser tão materialista.

Quando dá uma transada com uma profissional fica com culpa por estar destruindo uma possível família incentivando esse processo com seu dinheiro.

Quando está trabalhando fica pensando nos pobrezinhos desempregados que não tem emprego nem trabalho.

Agora, respondam-me com sinceridade: dá para ser feliz assim?

Oras, precisamos assumir que como mamíferos somos animais egoistas e não nos importamos nem um pouco com o mal-estar alheio a não ser com o nosso próprio.

Raciocinando dessa forma fui reeducando meus sentimentos e emoções para eles trabalharem para mim e não mais para os outros.

Com isso, posso jurar de pés juntos que não sinto mais nenhuma pontinha de infelicidade.

É claro que felicidade, como eu disse em meu primeiro comentário, eu não sinto mas nem faço questão disso.

Só o fato de não ser mais infeliz para mim já é uma grande felicidade.

Anônimo disse...

Ao 1o comentarista: no seu 1o comentário nao fica nada claro se vc é feliz ou não, aliás vc demonstra ignorância qto ao q é felicidade. Mas no seu 2o coment as coisas ficam mais claras e pode-se ver sua natureza animal!

Anônimo disse...

Rodrigo e comentaristas,

...pelo que ví, são todos masoquistas, gozam de uma felicidade infeliz, ou, como quer um destes ai, não estar infeliz tá de bom tamanho e ainda faz louvações ao egoísmo.

Conclusão, o ateísmo anda pior que o cristianismo (isso me traz felicidade! rs)

WSCamy

Anônimo disse...

"A única saída para o humano é tentar se reconciliar com as perdas operadas na vida e
procurar aproximar-se de seu desejo, reduzindo danos."


Os sofrimentos independem, algumas vezes, de nós; mas muito mais vezes são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos que lhe teria sido possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, às suas paixões? O homem tem penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus
desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura permanentes. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças. O homem que se coloca acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem deixar impressão dolorosa.

O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na sociedade, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o "seu vizinho", enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo

Anônimo disse...

Novamente o primeiro comentarista:

Uma coisa que pouca gente, ao menos no Brasil, tenta entender é os motivos da infelicidade que parece-nos uma epidemia na sociedade.

É claro que podemos chamar a infelicidade de depressão, tristeza, amargura, etc. mas por que será que as pessoas se vêem constantemente atacadas pela infelicidade?

A única resposta que me veio à mente foi de que pensamos de maneira errada a respeito da vida e de nossas vidas.

Oras, se pensando do jeito que sempre pensei só colhi infelicidades e frustrações então para eu ao menos ter uma chance de ser feliz depois dos 40 anos de idade bastar-me-ia pensar da forma oposta à que eu sempre pensei a vida inteira.

Conclusão: fui invertendo a minha maneira de pensar tal como achar que aqueles que se fazem de coitadinhos são realmente coitadinhos e dando o verdadeiro nome para aquilo que eu presenciava: falta de vergonha na cara.

Enfim, hoje, ao menos socialmente finjo que falo a língua do povo mas em meu foro íntimo eu penso com meus botões: se eles soubessem o que estão plantando para suas vidas no futuro.

Podem demonizar minhas palavras mas garanto que a verdade de cada um aparecerá um dia até mesmo por necessidade de sobrevivência.

Nesse dia vocês sentirão um tremendo ódio de vocês mesmos na mesma intensidade que sentem diante de minha sinceridade.

Anônimo disse...

"Conclusão: fui invertendo a minha maneira de pensar tal como achar que aqueles que se fazem de coitadinhos são realmente coitadinhos e dando o verdadeiro nome para aquilo que eu presenciava: falta de vergonha na cara."


Taí uma boa desculpa para ser egoísta, dizer que todos os que precisam de ajuda são espertinhos sem vergonha. O problema é acabar se passando por mané, ao confessar ter sido passado prá trás até os 40.

Anônimo disse...

He, he...

E qual o problema de ter sido feito de Mané até os 40 anos de idade?

Nem vou mentir a esse respeito porque infelizmente eu era muito ingênuo com relação à minha família e fui feito de Mané pela minha própria família, tão idolatrada nos valores direitistas.

Oras, eu sendo um direitista roxo ou ao menos tendo sido obrigado a sê-lo por força das circunstâncias jamais imagianaria em meu pobre cérebro tão afeito às ciências e à matemática que minha família era a minha pior inimiga.

Poderia pensar até que a sociedade, os políticos e até mesmo os militares não prestassem mas como eu poderia enxergar que era minha própria família que não prestava se eu acreditava piamente que quem não prestava era eu, por não conseguir corresponder às expectativas familiares em relação à mim que na verdade não eram nenhuma e custou para entender isso: eles esperavam de mim que eu me tornasse docilmente o bode expiatório da família o que sempre fui mas lutei muito para mostrar-lhes meu valor que nunca quiseram enxergar.

Enfim, hoje com 48 anos eu me rio por dentro quando vejo um direitista enaltecendo a família.

E acreditem: sou cristão ao menos na prática pois abri mão da vingança em relação aos meus familiares, após tomar consciência do mal que me fizeram.

Esse abrir mão da vingança é que significa perdão.

O perdão não tem sentido se não houver motivos para vingança.

Quanto a motivos para vingança, tenho-os de sobra pois desde a mais tenra idade sempre humilhado e massacrado pelos familiares.

Oras, abrir mão da vingança não significa que deixei de senti-la dentro de mim.

Tenho sim, certos orgasmos em me imaginar com um revólver apontado para a cabeça de meus irmãos mas, felizmente, meu lado prático e racional consegue segurar essa barra e me dar alternativas de vida mais compensadoras.

Pouca gente sabe o que fala quando se diz direitista mas os esquerdistas sabem exatamente do que estou falando mas, como jamais nutri simpatias pelo pensamento esquerdista que considero chulo e sem sentido, eu prefiro manter-me à direita no espectro ideológico-político.

Anônimo disse...

Cara, do 1o coment: vc começou falando das criancinhas da áfrica e mudou totalmente o rumo da conversa.! Mas tudo bem, mané sou eu me metendo na vida dos outros. Fique em paz...

Anônimo disse...

Mais um exemplo de como dieitista tem uma visão curta da realidade.

Eu citei as criancinhas da África mais como um exemplo do que como tema de minha postagem e a pessoa se apega à esse exemplo como se fosse o motivo principal de minha postagem.

Começo a notar um defeito no pensamento direitista (talvez não no pensamento, pois considero-o perfeito) que é o de tomar o todo pela parte e desprezar o resto.

Por exemplo, eu elaboro um discurso super-fantasticamente lógico e de alto nível mas, ao expô-lo ao público, entremeio-o de palavrões assim como Olavo de Carvalho.

O público que se diz direitista dirá que não gostou do discurso porque estava cheio de palavrões e pouco atentará para o discurso em si.

Já o povo esquerdista prestará a máxima atenção ao discurso pois será dele que retirará as armas necessárias para atacar a direita em seus valores.

Daí o que acontece? Um discurso maravilhoso que visava precaver os direitistas dos erros que vem comentendo em relação à esquerda só servirá mesmo para os esquerdistas que tirarão argumentos das teses apresentadas apenas invertendo os lados mas mantendo o essencial.

Vendo por esse lado, não é à toa que as pessoas esquerdistas demonstram ser mais interessadas no mundo do que as direitistas que já arrumaram a cama para se deitarem ou ao menos acreditam nisso.