terça-feira, novembro 10, 2009

Vinte Anos Depois



Rodrigo Constantino, O Globo (10/11/2009)

Dia 9 de novembro de 1989, 23h17, duas palavras selaram o destino da Guerra Fria. Uma multidão gritava em uníssono: “Abram! Abram!”. Eram os alemães do lado oriental, exigindo o direito de atravessar para o lado ocidental. O guarda responsável da fronteira finalmente cedeu, e ordenou: “Abram tudo”. Os portões escancararam-se. Era o fim do Muro de Berlim, ícone do regime socialista que vinha mantendo o próprio povo em cárcere desde 1961.
Inúmeras causas podem ser apontadas para esta conquista. De um lado, parece inegável o papel desempenhado pelos americanos, em especial o presidente Reagan, que exigiu em 1987: “Senhor Gorbatchov, derrube este Muro!”. Atrás da retórica, um expressivo gasto militar que expôs a incapacidade do regime socialista de acompanhar o ritmo americano. O colapso econômico do sistema soviético era cada vez mais evidente. A queda no preço do petróleo daria o golpe fatal. O contraste com o dinamismo das nações capitalistas era gritante demais.
Papel fundamental na derrubada do Muro, entretanto, foi exercido por alguns importantes líderes do Leste Europeu. Eis o que demonstra o jornalista Michael Meyer em “1989: O Ano que Mudou o Mundo”. Meyer foi chefe da sucursal da revista Newsweek na Alemanha Oriental durante o desenrolar dos eventos e pôde verificar in loco os fortes ventos da mudança soprando na região. Ele mostra como alguns “reformistas”, convencidos de que o sistema não funcionava, tomaram decisões cruciais que culminaram na derrocada completa do socialismo.
Entre esses líderes, Miklós Németh merece destaque, por seu corajoso golpe no governo comunista húngaro. Por meio de suas articulações políticas, a fronteira da Hungria com a Áustria seria aberta, fazendo um buraco na Cortina de Ferro. Os regimes comunistas sempre tiveram a necessidade de impedir a livre saída do povo, para não deixar que os cidadãos descontentes – quase todos – votem com seus pés. Assim, a fotografia de soldados húngaros cortando um trecho da cerca de arame farpado que separava a fronteira austro-húngara ganhou o mundo.
Outra grande conquista se deu na Polônia, onde o movimento Solidariedade, liderado por Lech Walesa, conseguiu uma incrível vitória pacífica nas eleições que o regime comunista, sob intensa pressão popular, aceitou realizar. Nas palavras de Meyer, “para os anticomunistas de todos os lugares, era como tomar um grande gole de coragem”. Aquilo que antes parecia impossível passava a ser visto como viável.
A Alemanha Oriental seria a próxima da lista, apesar da postura intransigente do poderoso dirigente Honecker. Não dava mais para conter o desejo de liberdade do povo. O Muro de Berlim representava a cicatriz da Europa dividida. Sua queda marca o fim da Guerra Fria, com a humilhante derrota socialista. Vinte anos depois, esta data merece ser celebrada, para jamais esquecermos os horrores do socialismo, que, por onde passou, deixou um rastro de miséria, escravidão e terror.
Alguns intelectuais e “movimentos sociais”, infelizmente, tentam ressuscitar na América Latina o que foi devidamente enterrado no Leste Europeu. Sob um novo manto, o “socialismo do século XXI” quer inegavelmente seguir os mesmos passos fracassados do passado. A diferença é o discurso hipócrita da “revolução bolivariana”, com que se pretende hoje vestir a ditadura, dando-lhe uma roupagem democrática. Trata-se do uso da “democracia” para destruir as nossas liberdades individuais mais básicas. O alerta antigo vale mais que nunca: “Aqueles que ignoram o passado estão condenados a repeti-lo”.

12 comentários:

Everardo disse...

Rodrigo, parece oportuno discutir o novo muro do México, não é? Algumas pessoas dizem que há uma diferença entre um um e outro, com base no fato de que o primeiro foi para evitar a saída. e o último é para evitar a entrada. Mas, o de Berlim separava dois sistemas antagônicos, um vítima do outro, a depender da perspectiva das convicções do observador. Mas, no caso do México, "o que se passa?"

Sergio Oliveira Jr. disse...

Everardo,

Imagina o seguinte.

Vc é mais sortudo/bem-sucedido/capaz/etc do que eu, por isso vc mora numa casa bem melhor que a minha.

Seus vizinhos são pobres por razões diversas.

Vc acha legal haver uma invasão a sua casa, com todo mundo se mudando pra lá?

Os EUA são comprovadamente (não por falação chula) o país com mais oportunidades. Isso porque foi liberal durante muito tempo e criou uma economia livre e dinâmica.

Se todos os países semi-socialistas do mundo enviarem sua população para morar nos EUA então é o fim dos EUA. Ao invés de termos poucos países ricos e alguns pobres, teremos TODOS pobres. É o socialismo trocando pessoas por países.

O México ao invés de ficar preocupado com o muro tem que fazer o dever de casa dele.

Quem é sério e quer se mudar para os EUA não precisa pular muro, há várias outras opções, inclusive para o méxico com o NAFTA.

Sergio (direto dos EUA como imigrante LEGAL)

Adamos Smithson disse...

Antes eram só os comunistas que tentavam reescrever a história. Agora os anarco-capitalistas também...

Os EUA são comprovadamente (não por falação chula) o país com mais oportunidades. Isso porque foi liberal durante muito tempo e criou uma economia livre e dinâmica.

O "liberalismo constantino" dos EUA (ai meu deus, corram! o Estado vai nos pegar!!!) não existia antes do Reagan, o presidente/cowboy hollywoodiano. Com toda a certeza do mundo, os momentos de maior desenvolvimento dos EUA (1a Guerra Mundial, em especial) tiveram forte participação do Estado na Economia, assim como as indústrias dos EUA que hoje se destacam (Defesa, em especial) são profundamente ligadas ao Governo.

Everardo disse...

Sérgio, nã se pretende evitar as desigualdades pelos seus efeito, mas, pelas causas. Asa causas que voc~e aponta, envolvendo sorte, capacidade, etc. é que são a discussâo, entende?

Sergio Oliveira Jr. disse...

Adamos:

A história já está escrita. Pesquise um pouco sobre a história da economia americana desde da sua independência que verás que ali houve algo bem particular. Não foi sorte, nem nenhuma outra coisa, mas MENTALIDADE LIBERAL + GOVERNO MÍNIMO. Ok governo mínimo não existe mais por lá, mas no passado (até a primeira guerra mundial) foi o modelo.

Everardo:

Não há discussão aqui. Uma pessoa é mais rica que a outra por N motivos. Você pode aceitar esses motivos ou partir para a inveja.

Assumindo que a pessoa mais rica não cometeu nenhum ato ilícito de roubo, mas enriqueceu através do livre mercado, ou ganhou na mega-sena, ou herdou o dinheiro da família, etc. então ela tem TOTAL direito às suas propriedades.

Claro que no Brasil, essa terra maravilhosa onde a ética e a moral como o LULA bossal falou se resumem ao "tamanho do seu salário" ser rico/bem-sucedido é uma maldição. O cara tem que ser esconder e ter vergonha.

Por essas e outras que eu me mandei daí. Se um dia eu ficar rico, por esforço próprio, quero poder sair na rua com um bom carro, ou morar numa boa casa sem arame farpado.

É tudo uma questão de mentalidade:

A mentalidade do brasileiro é: coletivismo, culpa do governo, culpa de Deus, inveja, falta de auto-estima, que leva a falta de ética que leva a criminalidade e a pouca vergonha. Tolerância total. Perdão e compaixão com os criminosos e ladrões sempre.

A mentalidade do americano é: individualismo, responsabilidade individual e tolerância zero (mijou fora do pinico dançou). Capitalismo + livre mercado o que gera empregos para beneficiar a camada menos favorecida. Admiração ao invés de inveja.

Todo mundo quer vir pra cá porque um garçon aqui ganha 3k de dólares por mês, faz leasing de um carro foda e aluga uma boa casa. Isso se chama economia livre e forte, apenas isso.

Agora se o mundo todo se despejar aqui, então tem-se uma favela. Não é justo nem racional. Apenas distrói o bom em benefício dos maus.

Que cada país estude como os Estados Unidos chegou aonde chegou ao invés de despesar sua população por lá.

O muro na fronteira com o México faz tanto sentido quanto o muro do seu condomínio, casa ou apartamento.

Aprendiz disse...

Everardo

"Mas, o de Berlim separava dois sistemas antagônicos, um vítima do outro, a depender da perspectiva das convicções do observador."

Você está louco? O sistema comunista dominava praticamente metade do mundo? Vítima como? Eles é que faziam vítimas entre sua própria população.

Quanto ao muro ao sul dos EUA, note o seguinte: todos reconhecem o direito de qualquer país controlar quem está entrando. Nunca vi alguém dizer que deveriam permitir que qualquer pessoa entrasse na China ou na Rússia, independentemente da autorização das autoridades.

Mas quando se trata dos EUA, aí a coisa muda de figura. Ai deles se não permitem a entrada de todos que quiserem, todos os criticam.

Mas respondendo de outra forma, eles fazem o muro porque não podem atirar indiscriminadamente em qualquer um que queira passar, seria um escandalo mundial.

Mas sempre tem havido outros paises que podem fazer o que quiserem, atirar sempre em qualquer pessoa que tenta entrar ou SAIR (o que é muito mais grave) sem sofrerem crítica quase nenhum, pois gozam a complacência dos "intelectuais". Como disse Sartre, o problema da URSS foi que não mataram o suficiente... possivelmente você pensa o mesmo, mas tem vergonha de admitir.

Aprendiz disse...

Adamos

Como você explica o imenso progresso dos EUA no século 19, que começaram sendo um pais de economia pequena, até mais fraco que o Brasil, e terminaram como uma potência? Como conseguiram sobreviver sem imensas empresas estatais e sem a maravilhosa carga tributária atual? Afinal, quanto mais impostos e mais empresas estatais, mais progresso, não é mesmo?

fejuncor disse...

Os carcomidos, ainda hoje simpatizantes do regime falido, não abrem nem a boca neste momento de comemoração de tolerância e liberdade!

Everardo disse...

fejuncor, quando se fala sobre o muro do México não se está defendendo o muro de Berlim. Estamos apenas lembrando que, dentro do paraíso liberal-capitalista, há ilhas. É estranho que os EUA não adotem medidas "humanitárias" para os mexicanos obrigados a fugir da cilada em que cairam...

Everardo disse...

Sérgio, é engraçado que você ache que se todos fizerem como você o sistema, a economia americana não suporta. Você entrou e agora é a favor do fechamento das fronteiras, para não ameaçar o SEU naco. Esse é o problema do individualismo, que se exacerbou com a entrada do capitalismo na cena moderna. O outro que se lixe. E você pode pensar um pouco sobre como é possível compatibilizar a ética interna dos EUA e a que ele implanta mundo afora. O liberalismo que o americano médio prega é dustante das suas práticas.

Everardo disse...

Constantino, as mudanças que levaram à queda do muro de Berlim foram produzidas dentro do sistema soviético. Foram de fora para dentro. Não tem nada a ver com pessoas como Reagan que, ao contrário, teriam perpetuado a guerra fria e transformado os EUA num simples exército global. Regan era um opressor, não um liberal, e o Estado "liberal" de Reagan era movido a compras governamentais e gastos militares.

Sergio Oliveira Jr. disse...

Everardo:

Vc conseguiu falar um monte de besteira desconexa. Eu não entendi muito bem o seu argumento mas acho que cabe um direito de defesa pra mim já que vc me acusou de inverdades.

1) Sou a favor da imigração LEGAL e contida. Não sou a favor de pular muro. Se o cara quer se mudar para os Estados Unidos, há diversas maneiras de se fazer isso LEGALMENTE. Se ele não consegue fazer isso LEGALMENTE então não há como ele se mudar. Nem tudo que a gente quer na vida é possível certo?

2) Não sou a favor do fechamento das fronteiras, mas vc precisa concordar que abrir as fronteiras para quem quiser imigrar para os Estados Unidos só vai transformar os Estados Unidos numa grande favela, sem falar nos malucos islamicos. É a destruição do país exemplo em benefício dos países semi-socialistas invejosos que não seguiram o exemplo liberal americano e agora querem saquear os benefícios de sua economia forte e dinâmica. De novo: os Estados Unidos estão abertos a quem quer trabalhar direito. O NAFTA concede milhares de visto de trabalhos (TN) por ano para o México.

3) Não apoio ou aprovo a política externa americana, mas reconheço o seu direito de auto-defesa em relação os maníacos lunáticos fundamentalistas islâmicos.

4) Sou totalmente a favor da livre competição. Quem pensa em "SEU NACO" é apenas um inseguro ou um incompetente em busca de garantias. Acredito na meritocracia. Qualquer negócio baseado em altruísmo está destinado ao fracasso.

Por acaso vc é um funcionário público ou deseja ser, Everardo? Apenas minha intuição depois dessa sua história de "ameaça de NACO".

Aqui não existe lei trabalhista e os contratos de trabalho são AT WILL. Significa que o empregador pode mandar o empregado embora e o empregado pode pedir demissão COM OU SEM motivo. Provavelmente vc não poderia trabalhar aqui, pois o seu NACO não estaria garantido.

Sua visão é coletivista. Ou todos tem um pedaço do naco ou ninguém, como se houvesse quantidade de riqueza abundante no mundo para todos. Essa é a grande falácia dos socialistas já discutida pelo Rodrigo milhares de vezes. Realmente não há como nós dois debatermos, pois seria mais ou menos como um católico tentar catequizar um muçulmano, ou vice-versa.

No mundo real que eu conheço não existe esse seu sonho chavista de compartilhamento de nacos. Vc deveria se mudar para Cuba ou Venezuela. Lá não há individualismo nem capitalismo.

Ser contra o direito de um país de construir um muro para evitar que milhares de pessoas (mexicanos, islâmicos, brasileiros, etc.) entrem ilegalmente com drogas, armas, bombas, etc. é desonestidade intelectual ou inveja porque o país com melhores oportunidades não pode compartilhá-la com o resto do mundo, como se a riqueza fosse infinita e a bossalidade/ignorância das pessoas dos outros países finita.