terça-feira, novembro 23, 2010

China insiste em erro milenar ao controlar preços

Rodrigo Constantino, no Valor Econômico

Aprendemos com a história que muitos não aprendem com a história. A repetição de certos erros chega a assustar. É o caso da China e sua recente tentativa de combater a inflação por meio do controle de preços ou punição aos especuladores.
Sobe o preço dos alimentos? Então o governo decide que estão proibidos novos aumentos, como se leis econômicas pudessem ser alteradas pela “caneta mágica” do Estado. Os brasileiros sabem muito bem que isso não funciona.
Quando um país se abre para o fluxo internacional de recursos, é impossível ele controlar tanto a inflação quanto o câmbio. Várias crises recentes aconteceram em países que tentaram isso. Queriam ter e comer o bolo ao mesmo tempo. No sistema de câmbio flutuante, os ajustes no fluxo de capital ocorrem através da taxa de câmbio. Com o câmbio fixo, entretanto, o governo não tem como controlar os juros e a inflação. Tentar fazer isto é como servir a dois mestres simultaneamente, e o resultado é a traição a ambos.
A economia chinesa vem crescendo a taxas elevadas, basicamente por conta de sua revolução industrial tardia, depois que o governo resolveu acordar para a globalização. Com farta mão-de-obra barata, a China se tornou a maquiladora mundial, exportando manufatura para o mundo todo e importando tanto commodities como capital. Com uma taxa de câmbio artificialmente desvalorizada, surgem vários desequilíbrios na economia global. Para piorar, o yuan é atrelado ao dólar, que perdeu valor frente a diversas moedas do mundo todo, graças à política expansionista do Fed.
O resultado acaba sendo mais pressão inflacionária na China. O caminho natural de equilíbrio seria uma forte apreciação do yuan, justamente o que o governo chinês tenta evitar faz tempo. Como a moeda chinesa não pode se valorizar, os preços começam a subir em moeda local. Para uma população ainda muito pobre, a alta dos preços de alimentos gera forte impacto negativo. O governo, preocupado com isso, resolve tentar controlar tais preços na marra. Algo como colocar o termômetro no gelo para acabar com a febre do doente.
Nada disso é novo. Trocam-se os personagens, mas a trama continua a mesma. Robert Schuettinger e Eamonn Butler escreveram um livro em 1979, chamado “Quarenta séculos de controles de preços e salários”. Pelo título, já fica claro como esta política é antiga. Tão velha quanto a Babilônia, para ser mais preciso. O Código de Hamurabi já impunha um rígido sistema de controles de salários e preços. Naturalmente, não funcionou.
Os autores resumem: “O registro histórico mostra uma seqüência sombriamente uniforme de repetidos fracassos. De fato, não existe um único episódio em que os controles dos preços tenham conseguido deter a inflação ou acabar com a escassez. Em vez de conter a inflação, os controles de preços acrescentam outras complicações à doença da inflação, como o mercado negro e a escassez, que refletem o desperdício e a má alocação de recursos provocada pelos mesmos controles”.
A razão para o fracasso é clara: os controles de preços não atacam a verdadeira causa da inflação, que é “o aumento dos meios de pagamento superior ao aumento da produtividade”. O governo chinês insiste no erro. Pretende evitar o aumento da inflação decretando controle de preços e prendendo especuladores, em vez de permitir a valorização de sua moeda, que seria o curso natural se o mercado fosse livre. Não se brinca impunemente com os preços de mercado, especialmente o câmbio.
Outro grave problema do controle de preços é que sabemos onde ele começa, mas nunca onde termina. O economista austríaco Mises descreveu a desagradável experiência alemã: “Nos seus esforços para fazer funcionar o sistema de controle de preços, as autoridades ampliaram passo a passo a gama de mercadorias sujeitas ao controle de preços. Um após o outro, os setores de economia passaram a ser centralizados, sendo colocados sob a administração de um comissário do governo”.
O controle de determinado preço gera conseqüências indesejáveis, e novos controles são demandados para atacar os novos problemas. Algo como aqueles desenhos animados antigos, em que o personagem tentava conter o vazamento de água tampando um buraco, mas logo apareciam inúmeros outros buracos, levando-o ao desespero.
Seria bem mais inteligente atacar a raiz do problema, a saber, o preço da moeda chinesa totalmente fora de seu lugar adequado. Mas será que o governo chinês fará a coisa certa, ou a mais fácil? Dependendo da escolha, o cenário global fica totalmente diferente para os investidores.

4 comentários:

AC disse...

transfiro para cá a pergunta que fiz em outro post seu: é correto dizer que a solução para a crise financeira mundial seria a China tornar-se um estado mais gastador, vale dizer, mais socialista, investindo em saúde, previdencia, etc, e criando algo como um salário mínimo que aumentasse o mercado consumidor chinês? As condições do trabalhador da China hoje não configuram "concorrência desleal" que, se corrigida, implicaria em mais consumo, aquecendo as economias em todo o mundo?

ntsr disse...

Eu não acho que o trabalhador chinês seja um concorrente desleal.Em muita coisa eles são ruin, e no que são 'bons' o que eles querem é competir com robôs, não vão conseguir isso por muito tempo.
Agora, quanto a pirataria e ao roubo de propriedade intelectual, aí sim é sacanagem.Mas isso o governo deles acha bonito.

samuel disse...

Será que os chineses levarão a CONCEIÇÃO SANTA MARIA para consultoria? Ela tem bastante experiência em controle de preços.
Todas as suas experiências com tal procedimento fracassaram. Mas, e dahi? É humanitário, é socialista, o que vale são as INTENÇÕES...
Desde a Babilônia? isto por que eles não tinham a CONCEIÇÃO lá...

samuel disse...

Dilma e os porquinhos levarão o Brasil novamente aos "bons tempos" da inflação menos pela ideologia e mais pela incompetência em manipular as ferramentas econômicas. Ela pode ser incompetente como mostra o seu histórico, mas é autoritária, pretensiosa e ignorante do que é necessário para dirigir o país. O QUE ACONTECERÁ COM O BRASIL QUANDO SE ALIJA OS QUE ESTUDARAM E CONHECEM E OS SUBSTITUI PELOS PRETENCIOSOS IGNORANTES E SECTÁRIOS? .... A substituição do Meirelles já está mostrando o caminho: EU SEI POR QUE EU MANDO... e fim de papo... Inflação nos botocudos... eles são burros mesmo, vendem seu voto por trinta dinheiros...