terça-feira, novembro 23, 2010

Liberdade com pão de queijo

Rodrigo Constantino

Impecável. Esta é a palavra que define o primeiro Fórum da Liberdade em Minas Gerais, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Há mais de duas décadas o IEE organiza o Fórum da Liberdade em Porto Alegre, evento que cresceu tanto a ponto de se tornar o maior fórum liberal da América Latina, quiçá do mundo! Inúmeras personalidades importantes já passaram pelo evento, que preza por sua pluralidade de idéias, sempre respeitando o contraditório (esquerdistas são invariavelmente convidados, ao contrário do que ocorre no Fórum Social Mundial, onde liberais jamais são chamados).

Desta vez o IEE abraçou o desafio de levar este incrível evento para Minas Gerais. E com que sucesso o instituto realizou esta tarefa! Foi o primeiro Fórum da Liberdade em BH, mas a criatura já nasceu grande. Mais de 500 pessoas compareceram ao evento, fora outros tantos que puderam acompanhar as palestras por transmissão via internet. A organização estava impecável, e as palestras foram excelentes. Foi, sem dúvida, um evento nota 10!

Os discursos da presidente do IEE capítulo BH, Sílvia Araújo, e do presidente do IEE Felipe Quintana foram diretos ao ponto, atacando o modelo político perverso que vigora no país, asfixiando a iniciativa privada de forma criminosa. Não pude deixar de notar que toda vez em que Felipe Quintana criticava algum absurdo do governo, ele olhava diretamente para Antônio Anastasia, o governador de Minas Gerais ali presente. Eis a cultura disseminada pelo IEE: falar o que deve ser dito com coragem. O discurso do governador mostrou que ele acusou o golpe. Anastasia, na defensiva, disse que o Estado não deve ser nem mínimo nem gigante, mas sim do tamanho "necessário". O diabo é que governantes sempre acham que o necessário é infinitamente maior do que o realmente necessário!

Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, foi homenageado com o Prêmio Liberdade. E que homenagem merecida! A revista Veja tem sido um dos principais pilares na defesa da liberdade no país, com seu jornalismo investigativo que já derrubou ministros importantes envolvidos em escândalos de corrupção. Para medir o valor do trabalho em prol da liberdade da revista Veja, basta verificar a virulência com a qual os mais retrógrados dinossauros da esquerda carnívora atacam o veículo de comunicação. O discurso de Civita, como de praxe, foi excelente, com sua tradicional defesa do que chama de "indissolúvel interdependência" para a liberdade: livre iniciativa, liberdade de expressão e democracia.

No primeiro painel, sobre Liberdade e Prosperidade, Jorge Gerdau mostrou como os obstáculos criados pelo governo dificultam a vida dos empresários, que são quem cria riqueza e empregos no país. Ele se mostrou bastante preocupado com a dificuldade de sobrevivência do parque industrial construído com hercúleo esforço ao longo de décadas. As políticas do governo, especialmente sua gastança exagerada, impedem a queda mais acentuada dos juros, mantendo a taxa de câmbio extremamente valorizada e, com isso, prejudicando a indústria nacional.

Paulo Rabello de Castro fez uma palestra dinâmica em seguida, tocando em pontos importantes que são muitas vezes ignorados pelos liberais. Sua idéia é levar o capitalismo para o povo, sem medo de usar o termo "social". Paulo chamou de "estelionato eleitoral" a tentativa de resgatar a CPMF, uma vez que durante toda a campanha o tema não foi levantado, e sequer há algo do tipo no programa apresentado pela coligação que levou Dilma à vitória. Por excesso de pragmatismo, talvez, sua maior escorregada foi chamar Lula de um "grande homem". Nem aqui, nem na China!

O segundo painel, Para que serve o Estado?, foi muito interessante, a despeito do começo enfadonho. O primeiro palestrante foi um garoto de 23 anos, Felipe Salto, sem muita experiência em palestras. Ele cometeu o pecado dos pecados numa palestra: leu tudo do começo ao fim. Foi bastante cansativo. Mas logo em seguida o quadro mudou da água para o vinho, com a excelente palestra de Stefan Melnik sobre o liberalismo clássico e seus pilares. Locke e Kant foram usados para mostrar a importância de se limitar o escopo do governo, preservando assim a liberdade individual. Todo liberal, ao contrário de conservadores ou esquerdistas, desconfia do Estado, sempre. Eis o recado principal.

O ilustre Ives Gandra finalizou o painel, fazendo um discurso espetacular, levantando fortes aplausos quando disse que eram as autoridades políticas que deveriam nos chamar de "vossa excelência", e não o contrário. Afinal, somos nós os senhores, e eles os empregados. Infelizmente estamos muito longe desta cultura liberal, e Ives Gandra lembrou que na própria Constituição, o povo é tratado como "administrado", e não como cidadão livre. O jurista também destacou que o modelo de monarquia parlamentar tem tido mais sucesso no mundo com a estabilidade política do que modelos alternativos. Food for thought.

O último painel, o qual tive a honra de ser o mediador, falou sobre a reforma agrária. O primeiro palestrante foi o professor José Ambrósio, defensor da reforma agrária, mas que não defende o MST, movimento que teria se apropriado ilegitimamente deste "nobre fim". Em seguida falou o príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, que chamou os assentamentos do INCRA de "favelas rurais". Ele mostrou como é o agronegócio que garante a produtividade no campo.

Para fechar o painel, a senadora Kátia Abreu fez um ótimo discurso, mostrando o absurdo dos critérios arbitrários que o governo usa para desapropriar fazendeiros "improdutivos". Ela disse estar lendo Gramsci para conhecer melhor seus oponentes. Aproveitei para perguntá-la como podemos lutar, na prática, contra os invasores de terras, uma vez que o próprio presidente, que deveria ser o guardião da lei e da propriedade privada, toma café com um bandido feito Stédile, que deveria estar atrás das grades. A senadora disse confiar na Justiça, o último recurso daqueles que querem apenas preservar suas propriedades e produzir alimentos. Espero que possamos mesmo confiar na Justiça, pois se depender da presidente eleita, estamos perdidos: ela também veste literalmente o boné do MST, e Kátia Abreu lembrou da importância simbólica de se vestir um boné, significando apoio ao movimento criminoso.

A palestra especial de encerramento ficou por conta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. À primeira vista, surge a dúvida de o que alguém como FHC está fazendo num evento liberal. Sou um crítico do governo FHC em diversos aspectos, e vejo como sintoma de nosso atraso o fato de que ele é "acusado" pela esquerda jurássica do país de "neoliberal". Mas devo reconhecer que foi uma agradável surpresa sua palestra. Tocou em pontos importantes, condenou o "personalismo caudilhesco" que tem predominado na América Latina, usou dois grandes pensadores, Tocqueville e Nabuco, para defender um modelo com mais liberdade, e chamou a atenção para o risco da ausência de uma oposição mais organizada. FHC criticou bastante a falta de debates no país, onde decisões são tomadas de forma totalmente centralizada e sem a devida discussão prévia. Os liberais podem não morrer de amores por FHC, e com razão. Mas uma coisa é inegável: quanta diferença entre ele e Lula!

Em resumo, fiquei muito feliz ao ver o sucesso do evento em Minas. O IEE e todos os envolvidos na organização do fórum estão de parabéns. Fica registrado aqui um parabéns especial ao empresário Salim Mattar, da Localiza, por sua energia e dedicação em prol da luta pela liberdade. Lamento apenas que o Fórum da Liberdade não ocorra no Rio de Janeiro também. Na verdade, deveria ter um fórum em cada capital!

Os liberais contam com os melhores argumentos teóricos, com toda a experiência empírica a seu favor, mas pecam pela falta de melhor organização e divulgação de suas idéias. O IEE vem fazendo um excelente trabalho neste sentido, mas ainda é pouco. Precisamos de mais institutos e fóruns debatendo os valores liberais país afora. Os brasileiros, muitas vezes mantidos na ignorância por falta de oportunidade, precisam conhecer melhor os pilares do liberalismo, doutrina responsável pelo progresso material e também espiritual das nações mais desenvolvidas.

8 comentários:

Maurício Gonçalves disse...

Rodrigo, na minha humilde opinião, o Paulo Rabello não cometeu escorregão ao falar de Lula. Ele o considera como "talvez o maior de nossos presidentes". Mais um "insider" dentro do movimento liberal...

Vc já deve ter visto este artigo no Millenium...

http://www.imil.org.br/artigos/a-geracao-de-68/

"Lula, outro gigante da política brasileira, trouxe de volta, mais do que a moeda, a auto-estima de ser brasileiro, num esforço que ele próprio encarnava ao superar suas próprias limitações de escolaridade e informação para se tornar o grande presidente que é, e provavelmente, o maior de todos."

ntsr disse...

vídeos no youtube que é bom...?

Anônimo disse...

Claro que a Veja não é o que a esquerda diz, mas também não acho que seja um dos "pilares na defesa da liberdade no país". Talvez não houvesse muitas opções...

Not a Financial Advisor disse...

Rodrigo, interessante o post. No final você tocou on ponto mais importante: os brasileiros definitivamente precisam se libertar de ideologias ultrapassadas. No entanto, acho difícil implementar essas mudanças.

Bom, acho que você vai se interessar por esse artigo, escrito pelo John Cochrane: http://faculty.chicagobooth.edu/john.cochrane/research/Papers/stimulus_rip.html

Seria muito bom se no Brasil os assuntos que realmente importam fossem debatidos como nos Estados Unidos.

Burocratoparasita da União disse...

Lula reitera intenção de "regular" imprensa: "não é crime"

Notícias Terra

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu nesta quarta-feira uma entrevista a dez blogueiros na qual insistiu na "necessidade" de que o País discuta uma nova lei de imprensa que regule a atividade dos meios de comunicação. "Regulação não é crime. O crime é a censura. Há regulação nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Portugal e França e lá ninguém diz que isso é um crime", disse Lula na conversa com dez "blogueiros independentes" que foi transmitida pela internet.

O presidente reafirmou seu "compromisso" com o direito de imprensa, assegurando que é resultado dela, mas não deixou de criticar os grandes veículos de comunicação, dizendo que "distorcem informações" e "acham que o povo pode ser manipulado".

Segundo Lula, o fenômeno de internet obriga a imprensa tradicional a mudar, porque é desmentida em tempo real e depois tem que se retratar, "o que é extraordinário", mas também impõe a necessidade de novas regulações para os meios de comunicação, mas "sem censura", ressaltou, porque "isso é uma estupidez".

"É preciso trabalhar para democratizar os meios eletrônicos e para que o leitor saiba mais e seja o verdadeiro controlador de sua própria vontade", afirmou.

ARIANO-100% disse...

DEVIAM 'BLOQUEAR' OS ROUBOS PRATICADOS PELO PT...E O FILHO DO LULA...ISSO SIM DEVIA SER BLOQUEADO.

Eu vivi na ditadura e sei como é. disse...

A única voz que nos resta é a imprensa, se essa desgraça do PT quizer fazer calar não vai restar outra alternativa a não ser de sair nas ruas de cara pintada novamente.

Persa disse...

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Pela primeira vez, uma crise provocada pelo excesso de liberdade de atuação da Iniciativa Privada atingiu o povo americano de frente, após a crise de 30.
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Nas outras crises, os mercados prejudicados eram externos e, o povo americano ainda participava da produção de bens e serviços, que hoje foram passados para economias alienigenas, com mão de obra mais barata e, o que é mais grave, com maior capacitação técnica.
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Como os EUA vão sair no fim desta crise economica (com mais um repique de "liberalismo republicano aplicado" pós a eleição 2010), mostrará a robustez do modelo liberal que este post enaltece.
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