segunda-feira, maio 30, 2011

Triste tango sem fim

Hoje, o caderno especial do jornal Valor Econômico traz matérias sobre a caótica situação argentina. A socialista Kichner está seguindo cada vez mais os passos do tiranete venezuelano Hugo Chávez. Se as políticas irresponsáveis do governo produzem inflação galopante, qual a solução mágica? Congelar os preços e manipular os índices de inflação, claro! Eis que agora até o Big Mac sumiu das prateleiras do McDonald's. Segue uma das reportagens abaixo. Volto depois.

Sem reajuste, Big Mac 'desaparece' das lojas argentinas do McDonald's

Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial e um lugar muito bem escondido na lanchonete. O Big Mac continua sendo vendido como antes e os atendentes fazem a indefectível pergunta: refrigerante e batata frita grandes por alguns pesos a mais? Paradoxalmente, no entanto, o sanduíche mais famoso do planeta não é mais visto em uma única foto nas lojas do McDonald's na Argentina. O que nenhum publicitário entenderia é explicado pela sutil intervenção do governo nas empresas.

Mantido em 16 pesos (cerca de R$ 6,50) apesar da inflação elevada, o preço do Big Mac ficou defasado em relação aos seus concorrentes. Os demais sanduíches da rede têm preços até 80% maiores. O McChicken chega a 21 pesos. Seu equivalente do Burguer King, o Whopper Duplo, custa 23 pesos. Ninguém confirma oficialmente, mas poucos duvidam que essa distorção seja resultado do "morenismo" - os acordos informais patrocinados pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.

Moreno é responsável pela intervenção no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), em janeiro de 2007, que divulga desde então um índice de preços ao consumidor desacreditado pelo mercado e pela opinião pública. O Big Mac faz parte da lista de produtos pesquisada todo mês pelo Indec. Embora o peso que tenha no IPC seja mínimo, essa é uma das razões alegadas frequentemente para explicar sua defasagem de preço.

A outra tem a ver com o índice Big Mac, que a revista britânica "The Economist" prepara para comparar a competitividade das moedas. Na última medição, houve um constrangimento para a Casa Rosada. A Argentina liderava o ranking de países em que o sanduíche mais havia subido (19%) além da inflação oficial (10%). Isso foi apontado como evidência inequívoca de maquiagem da alta de preços pelo Indec. Também ajudava a desfazer um dos mitos cultivados pelo governo e eixo do modelo econômico dos governos Cristina e Néstor Kirchner: o de competitividade da taxa de câmbio. Com a elevada inflação em dólares, o índice da "Economist" mostrava que o peso deixava de tornar-se uma moeda muito barata, apesar de nominalmente desvalorizado.

O ex-ministro da Economia Martín Lousteau, que teve uma discussão pública com Moreno e hoje critica a política econômica do governo, explicou a situação em um artigo: "Em 2003, o Big Mac custava 4,1 pesos na Argentina e US$ 2,71 nos EUA. Dessa forma, um americano podia vir com seus US$ 2,71, comprar 7,62 (pelo câmbio da época) e comer 1,85 Big Macs. A Argentina lhe resultava barata. Mas a situação muda quando sobem os preços ou o dólar. Hoje o famoso sanduíche vale 16 pesos aqui e US$ 3,8 lá. Ao aterrissarem em Buenos Aires, esses dólares viram 15,5 pesos. Com esses valores, o visitante dos EUA já não consegue comer um sanduíche inteiro. E isso significa que a Argentina deixou de ser barata".

A versão corrente, alimentada por economistas e defendida ao Valor por dois gerentes de lojas do McDonald's no centro de Buenos Aires, é que a rede tem um acordo informal com Moreno: mantém artificialmente baixo o valor do Big Mac, ajudando a imagem do governo, enquanto tem liberdade para mexer nos demais preços.

Procurada pelo Valor, a empresa negou o esquema. "O McDonald's Argentina opera no país de acordo com a prática de livre mercado, entre as ofertas dos diversos competidores, formando seus preços exclusivamente de acordo com sua estratégia comercial em cada um dos países onde atua", afirmou sua assessoria, por meio de nota.

De acordo com a assessoria, o preço do Big Mac na Argentina é "equivalente ao de outros países da América do Sul, a exemplo do Chile, e um pouco mais do que em países onde está oferecido promocionalmente, como Uruguai e Brasil". A rede disse ainda que está fazendo uma campanha com "produtos premium do cardápio a preços bastante convidativos". Essa estratégia, segundo a rede, tem sido bem-sucedida em "consolidar a liderança" na Argentina e em "facilitar o acesso dos consumidores a uma experiência completa do cardápio e manter forte conexão com seus públicos".

Independentemente das versões, o fato é que não há divulgação do Big Mac, dentro ou fora das lojas. É como se ele simplesmente não existisse, para efeito de propaganda, embora seja comercializado normalmente. "Dos cem países nos quais o McDonald's está presente, só em um o Big Mac tem menos presença promocional do que na Argentina: trata-se da Índia, onde o produto foi substituído pelo Mac Maharaja de frango, já que os hindus não consomem carne bovina", diz Lousteau. Sem Big Mac, ganham destaque outros sanduíches, como o Angus, que a rede afirma ser elaborado com carne nobre e é vendido a 29 pesos. Diante da situação peculiar, surgiu até o Triple Mac, que tem uma fatia de hambúrguer mais. (D.R.)

Comentário: O caso argentino deve servir de lição para o Brasil. Afinal, trata-se de um país que foi rico para padrões mundiais! Há décadas, porém, tem sido literalmente destruído pelo peronismo, o câncer populista que assola a região. A Argentina tinha uma classe média razoável, educação decente, uma das maiores quantidades de livrarias per capita do mundo. Nada disso foi capaz de impedir sua desgraça sob seguidos governos populistas. Quando os brasileiros repetem que nada disso poderia acontecer por aqui, tenho arrepios, lembrando daqueles jovens que enchem a cara e dirigem feito loucos, jurando que acidentes acontecem apenas com "os outros". A sensação de "blindagem" é terrível, pois gera negligência, a arma preferida dos populistas. Acorda, Brasil!

6 comentários:

Anônimo disse...

'um país que foi rico para padrões mundiais! ]
(...)A Argentina tinha uma classe média razoável, educação decente, uma das maiores quantidades de livrarias per capita do mundo.'

Até quando foi isso? Tem algum livro que fale sobre isso?

Rodrigo Constantino disse...

Até meados do século XX. São dados oficiais. Era um país rico, que exportava muito, e que após o peronismo entrou em decadência constante e acelerada. O populismo é uma merda!

Thiago Porto disse...

No início do século passado havia uma expressão usual na Espanha que era "Rico como um argentino", para designar as pessoas muito ricas. Inclusive, muitos espanhóis e italianos mandavam seus filhos para estudar nas universidades argentinas. Uma pena que tenham seguido o caminho errado...O populismo é realmente uma merda!

Edgar disse...

Caro Rodrigo, estou torcendo para que não seja o Triste Samba Sem Fim.
apesar de odiar samba, você entendeu o trocadilho.

Não estou vendo luz no fim do Tunel.

abços, e continue com seu belo trabalho, e olha que sou Servidor pùblico (rssss)

Anônimo disse...

Teremos sorte se o lulopetismo não permanecer por muitos anos no poder. Olhar p/ o presente argentino e venezuelano é realmente de dar arrepios.

Jonathan disse...

E olha só o comentário desta semana do Krugman sobre a Argentina, em momento bem oportuno após a expropriação.
Como um sujeito desses ganha um Nobel?

http://krugman.blogs.nytimes.com/2012/05/03/down-argentina-way/