segunda-feira, março 29, 2010

A matéria do WSJ

Rodrigo Costantino

Em matéria sobre o Brasil, o renomado The Wall Street Journal conclui, de forma bastante otimista, que o amanhã chegou para o "país do futuro". Naturalmente, alguns esquerdistas já correram para soltar fogos de artifício: viva Lula! Seria bom mais cautela para esta turma, que já se queimou com a comemoração precipitada da matéria da The Economist com o Cristo Redentor na capa. Fica parecendo que essa gente nem sequer lê as matérias, e que o complexo de vira-lata é tão forte que eles vibram de emoção sempre que algum ícone do capitalismo faz elogios ao país. Se ao menos lessem a reportagem, evitariam tanto constrangimento. Tentarei facilitar a tarefa deles, colocando alguns trechos da matéria (em itálico), comentados em seguida por mim (em negrito).

"But the country has enormous challenges it must overcome before it can fully live up to its potential. Its public sector is bloated and riddled with corruption. Crime is rampant. Its infrastructure is badly in need of repair and expansion. The business environment is restrictive, with a labor code ripped from the pages of Benito Mussolini's economic playbook. Brazil also risks patting itself on the back so much that it fails to see the colossal work that remains to be done."

Logo no começo, o WSJ faz um caveat: os desafios que o país ainda enfrenta são enormes! E quais seriam esses desafios? Ora, justamente aquilo que a esquerda defendeu a vida inteira! O que ainda temos de ruim, de empecilhos ao progresso, é exatamente aquilo que figuras como Lula e Dilma sempre defenderam. Abaixo, maiores detalhes desses pontos.

"Things started changing in the 1990s. The government adopted strict monetary policies and a laser-like focus on balancing the books. That fiscal prudence has given the country remarkable cash reserves—and breathing room during crises."

O que aconteceu com a "herança maldita"? O WSJ parece pensar diferente do PT: o que veio ANTES é o que foi responsável pelas mudanças mais estruturais, e justamente aquilo que o PT lutou para impedir: estabilidade da moeda, responsabilidade fiscal, abertura comercial etc.

"Even a pledge for a bigger state role in the economy by Dilma Rousseff, Mr. da Silva's outgoing chief of staff and his hand-chosen successor as the party's candidate, isn't scaring off the business community. "It's refreshing to have an election and see there's no fuss about either outcome," says Andrew Béla Jánszky, a Brazilian investment lawyer in the São Paulo office of Shearman & Sterling LLP. "For once, stability is almost a given.""

Ou seja, ATÉ MESMO uma Dilma da vida não assusta tanto, porque eles acreditam que ela não vai fazer... o que sempre defendeu na vida! Aqui está o maior ponto de discordância entre mim e o WSJ: considero a visão deles bastante ingênua. A Dilma não é "mais do mesmo"; ela é uma ameaça enorme de retrocesso, de mais autoritarismo ainda, de passos largos rumo ao modelo venezuelano. Souberam iludir o jornalista do WSJ direitinho com a retórica deles. Para cada público, um discurso diferente. Acorda, minha gente!

"For one thing, even after sweeping reforms, the government's role in the economy remains relatively big. Government spending totals more than 20% of the country's gross domestic product, compared with about 15% in the U.S., 13% in China and 7% in Indonesia, another fast-growing emerging market, according to data compiled by Mosaico Economia Política, a Brazilian consultancy."

Ops! Um dos maiores problemas do país: o tamanho excessivo do governo! E o que Dilma defende? Justamente mais governo ainda, um Estado "forte", ou seja, um monstrengo inchado que se mete em tudo na economia e nas nossas vidas. O que o país tem de pior é aquilo que Dilma mais gosta!

"Another problem is the restrictive business environment, especially strict labor laws that date back to the 1940s and were originally modeled on the statist policies of Mussolini."

Pois é... um dos piores pontos para o Brasil é a nossa lei fascista trabalhista, aquela que garante infindáveis privilégios aos sindicatos, aquela que dificulta a vida dos empresários, que gera desemprego e informalidade, e sim, que a esquerda adora e não aceita mudar! O país precisa de reformas liberais trabalhistas. A esquerda defende isso?

"Yet another obstacle to growth is a lack of infrastructure—from roads, railways and bridges to docks, airports and pipelines."

E o PAC?! Ah sim, Lula já vai lançar o segundo PAC, e o primeiro mal começou! Os setores que ficam sob a responsabilidade do governo são os mais caóticos? Não acredito!

"Crime is still a big problem in most cities and in lawless rural areas where ruthless prospectors, loggers and landowners at times ride roughshod over their neighbors."

Acho que o WSJ não defenderia muito o "movimento social" chamado MST, tão próximo do PT.

Em resumo, a matéria do WSJ se mostra bem otimista com o Brasil, é verdade. Mas aponta os pricipais obstáculos, todos eles bandeiras que os esquerdistas defenderam a vida toda. Para superá-los, o país necessita de muitas REFORMAS LIBERAIS. Mas não há partido que defenda tais reformas, muito menos o PT. Ao contrário: Dilma representa um retrocesso em relação a todas essas mudanças necessárias. E eis o maior erro do WSJ, em minha opinião: ignorar este risco, aceitar a premissa de que Dilma é apenas "mais do mesmo". Não é! Dilma é a candidata de Chávez. Ela representa, mais ainda que Lula, uma guinada rumo ao modelo autoritário venezuelano.

O segundo erro do jornal é pegar a foto relativamente favorável da economia brasileira, e ignorar seus pilares de areia. Aumento de transferências do governo para os mais pobres, crédito público explodindo, aumento de gastos públicos, nada disso representa um modelo de crescimento sustentável. Sem as reformas estruturais, o país terá apenas vôos de galinha, e continuará sim sendo o eterno "país do futuro". O WSJ tem a obrigação de saber bem disso. Afinal, ao lado do Heritage Foundation ele publica o Índice de Liberdade Econômica todo ano, que coloca o Brasil entre os menos livres do mundo. Sem liberdade econômica, não há progresso de longo prazo. O governo Lula e sua candidata Dilma, por acaso, defendem mais liberdade econômica ou mais Estado gerindo a economia? Pois é...

14 comentários:

Rodrigo Constantino disse...

Comentário do ntsr, que por algum motivo não consegui aprovar:

'"Yet another obstacle to growth is a lack of infrastructure—from roads, railways and bridges to docks, airports and pipelines."'

Outra coisa q esse repórter notaría se conhecesse a desgraçeira de perto é que n existem ENGENHEIROS suficiente pra fazer o desenvolvimento dessa terra, como vai ter infra estrutura assim?
Mesmo quem a demanda seja alta e o aluno queira muito se formar, sem uma boa base n tem vontade que dê jeito, e o ensino básico dessa terra é um lixo,isso incluindo as escolas particulares, que acham q o objetivo da educação é passar no vestibular.
Inclusive Rodrigo, tu ainda n comentou sobre essa lambança chamada novo enem, o que os petralhas tao fazendo é forçar o aluno a ir estudar em outros estados pra depois falar q precisa de mais governo pra dar bolsas e ajudar os alunos que viajaram

Riba disse...

Rodrigo, acho que a Dilma deveria ganhar essas eleições. Mais um mandato pro PT e eles mesmos se destroem. Pode ter certeza. O Brasil está numa bolha pronta pra estourar, com a ideia petista de que Estado forte é Estado inchado. Imagina: hoje o PT já se vangloria de suas atitudes toscas. Se a dita cuja entra, o ego do partido vai para as alturas, logo, vão querer fazer o que bem entender com o país (como já fazem, mas em escalas maiores). Nesse momento o próprio partido entrará em colapso, pois a economia não conseguirá sustentar tamanha intervenção do Estado. E como não são preparados, o pau dentro do partido vai comer solto. Ia ser lindo!!! A extinção do PT está dentro do próprio PT, é só dar poder a eles (como para qualquer comunista).

Rafael Gargalhão disse...

Os petistas são assim:

- se um órgão de imprensa "burguês" critica o Brasil, trata-se de evidente manifestação do imperialismo ianque;

- se a crítica não é explícita, lá vão os petistas retorcerem-na, obrigando as palavras a confessarem o que eles mesmos desejam ouvir (a reportagem em questão se encaixa nesse caso);

- se o elogio é desbragado, trata-se da pura verdade, claro!

Em suma, os petistas nunca estão mal, a não ser com a lógica.

Felipe Santos disse...

Rafael, essa é a mesma estratégia dos religiosos... retórica!!! Transformar o "preto no branco" com joguinhos de palavras... até aí, a maioria dos partidos age assim... minto, TODOS eles agem assim!!! Hehehe...

NTSR, faço minhas suas palavras e também gostaria da visão do Rodrigo sobre essa palhaçada do Enem, visto que um primo meu está passando pelas mesmas dificuldades...

Rodrigo, vc diz que o WSJ falha ao dizer que Dilma é "mais do mesmo", o que eu concordo com vc, mas apenas num exercício de imaginação... se ela fosse apenas isso mesmo, e mais, realmente fosse a última "herdeira" do PT, a despedida do partido no governo, ainda assim o Serra seria a melhor escolha, na sua opinião?!! Ou a Dilma seria então o "mal menor" (sendo que o PT acabaria junto com ela)?!!!

OJ disse...

Resolvi escrever este Post com intuito apartidário.
A análise básica do comentário do
WSJ é clara e realista.
Eu particularmente, acho um absurdo um país continental como o Brasil depender de transporte rodoviário.
Temos costas e vias navegáveis. E aonde está nossa navegação de cabotagem?
Deveríamos ter uma rede ferroviária que atendesse nossas necessidades.
Nossos portos estão sucateados, nossas ferrovias estão aquém das nossas necessidades e as estradas nem se fala.
Realmente falta infra estrutura.
Mas o que se faz? nada!

@_snatos disse...

"...Eu particularmente, acho um absurdo um país continental como o Brasil depender de transporte rodoviário..."

Aleluia, uma luz no fim do túnel. Realmente, e parece que foi decisão estratégica erra de 60 anos atrás.
O sistema ferroviário, apesar do alto custo de instalação, tem baixo custo de manutenção, e é melhor para a pesquisa operacional e simulação. Além de desafogar a estrutura viária interna das cidades, que atualmente estão tendo que se virar com esse passivo através de anéis viários.

Diego de Paula disse...

Fala isso não Riba, pelo amor de Deus!!!

Eu amo muito esse nosso Brasil pra vê-lo assim (ou pior) por mais quatro anos!!

##

Riba disse...

Diego, nem se preocupe que não seriam 4 anos. Antes disso já estariam extintos. E pra quem já aguentou 8, mais um pouco pra depois ter um benefício enorme (que é o sumiço e evaporação do PT) não seria nada! Hehe...

Lau Mendes disse...

Esta "matéria" é aquela que vem com a assinatura do Armínio Fraga e o passeio de mãos dadas com JP Morgan e UBS ?

ntsr disse...

Riba, nem o pt nem o resto da esquerda nunca evaporaría em 4 anos por um motivo bem simples, quem sustenta ele é a massa de analfabetos do bolsa esmola, até uma geração inteira ter educação e entender a desgraça q um governo grande faz leva tempo
Até em cuba, ferrada do jeito que é, ainda tem jente que admira os ditadores

fejuncor disse...

Outra excelente análise. Não deixou pedra sobre pedra. Tudo o que o PT fez e faz vai no sentido de desfederalizar um pouco mais o país e burocratizá-lo, centrando em Brasília, a meu ver, nossa maior chaga.

Se a União, ao invés de dar dinheiro a depudados e senadores, desse o dinheiro aos estados de onde eles são?
No caso da Paraiba, por exemplo, seriam quase 300 milhões de reais por ano. Isso acarretaria uma melhor distribuição de renda, os estados teriam mais recursos para investir em educação, saúde, segurança, cultura, transportes. E não precisando mais tirar dinheiro dos estados para pagar deputados, senadores, auxiliares, consultores e tudo mais, a União poderia ser desfeita e cada estado constituiria sua própria estrutura executiva e legislativa republicana.

O que vocês acham?

ntsr disse...

Eu acho q em vez de um mensalão teríamos vários mensalinhos que juntos daríam na mesma
Não falo nem em governador, a PREFEITA de fortaleza quando tem a chance faz hospital superfaturado de 4 milhões, festa de reveillon de 2, e assim caminha a humanidade.

fejuncor disse...

Toda ação federal representa um ônus para os estados, ntsr. Sem este carma, haverá um aumento do poder aquisitivo da população, a capacidade de poupança e desenvolvimento econômico e social. Por outro lado, a extinção da União representará um ganho moral, visto tratar-se do grande foco de corrupção institucionalizada e crime organizado que assola e saqueia aqueles que trabalham.

ntsr disse...

'Toda ação federal representa um ônus para os estados, ntsr. Sem este carma, haverá um aumento do poder aquisitivo da população...'

Que diferença faz pra mim, se eu pago 100 de imposto, 50 fica pro estado e 50 pra união, OU se eu pago 100 de imposto e 100 fica pro estado?