terça-feira, julho 09, 2013

Trabalho escravo: hoje os médicos; e amanhã?

Rodrigo Constantino

O anúncio de que o formando de medicina terá que trabalhar dois anos no SUS para obter o diploma é da maior gravidade, e não pode passar batido. Eu já escrevi ontem algo sobre isso, e publiquei outro artigo de um médico também. Mas é pouco! Diante deste absurdo sem tamanho, que transforma o médico em um escravo do governo, a reação deve ser maior, com força total.

Alguns podem pensar que o assunto não lhes diz respeito. Enganam-se! O precedente aberto é assustador. Trata-se do caminho para a servidão, agora escancarado. A liberdade de escolha do profissional desaparece, dando lugar ao pretexto de, em nome do “interesse nacional”, o estado escravizar as pessoas para suprir suas carências. Esqueça fazendeiros que não conseguem preencher 252 itens das leis trabalhistas; o verdadeiro trabalho escravo é esse: ser obrigado a trabalhar por dois anos para o governo!

Hoje são os médicos, mas e amanhã? O que vai impedir o governo de decretar que todo professor tem que ficar dois anos dando aulas em escolas públicas do interior para conseguir seu diploma? Ou forçar engenheiros a atuarem por dois anos nas obras do PAC Brasil adentro, para só depois terem acesso ao certificado de conclusão de curso? Ou obrigar dentistas a atenderem na selva amazônica antes de finalizarem a faculdade? Percebem o risco?

Isso não é somente um problema dos médicos, e sim de todos nós! Quem ainda tem um mínimo apreço por um valor chamado liberdade individual tem que se posicionar contra esse autoritarismo sem paralelo no país. Cabe a cada um lutar, como for capaz, para impedir essa medida socialista. Isso não pode passar!

Para concluir, relembro o alerta sempre válido de Martin Niemoller:


Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar... Já não restava ninguém para protestar.

28 comentários:

Anônimo disse...

Shido Lutero: O que mais me assusta é o apoio popular, com o argumento de que pessoas só se tornam médicos por "status" (what?) e por isso, devem "pagar" trabalhando no SUS. Agora eu me pergunto: onde estão as manifestações do gigante sonâmbulo? Onde estão os sindicalistas? Onde estão os conselhos de medicina para publicar uma nota de repúdio?

Anônimo disse...

Os conselhos de medicina já estão se pronunciando desde ontem.

Anônimo disse...

A verdade é que o atual governo colocou esses profissionais como os culpados pela mazela da saúde pública e usam os "2 anos" como castigo por eles terem feito isso. Esqueceram que a culpa não é do profissional, que é livre, e sim do estado, que não funciona.

Bruno disse...

Tendo em vista a solução proposta pelo governo para "resolver" o problema da saúde, tenho outra proposta tb a ser feita a "presidenta": É notório que a justiça no país é lenta, morosa e ineficiente. Processos se mantém por anos e anos sem julgamento. Tendo em vista a solução pra saúde proponho: Que o curso nas faculdades de direito sejam aumentados em 2 anos e que antes se ter a OAB, os formandos sejam deslocados para os tribunais em todo o país e julguem os processos sob supervisão de um juiz mais experiente. Após o término deste período. Os formandos podem prestar a prova da OAB e ir para onde quiserem. Pronto mais uma "solução" mágica para ouro sério problema brasileiro

Anônimo disse...

O Bruno foi genial, de uma obviedade espetacular e lógico!
Quando a zorra, para não dizer outra coisa, se instala no País, as soluções começam mesmo a descambar para os absurdos que estamos assistindo. Desculpem-me por parodiar o Boris: ISSO É UMA VERGONHA!!!
Odilon Rocha, JP-PB

Anônimo disse...

Não acho que as medidas anunciadas pelo governo federal tenham a intenção de culpar a classe médica pela saúde no país, muito menos seja retaliação por manifestações contra a importação de médicos.
A reação da classe médica muito me espanta. Em especial porque desde o começo eram contra a importação de médicos sem exame, em nome da "qualidade da saúde", mas ninguém, convenientemente, falou em aplicar o mesmo exame aos médicos recém formados no Brasil.
Existem vários problemas com a saúde no país, no entanto, uma realidade atual é que existem populações carentes sem nenhum atendimento médico, e seja ou não por recusa dos médicos brasileiros em trabalhar nessas áreas, a importação de médicos garantirá, em um primeiro momento, esse atendimento. Eles não virão para o país para trabalhar na rede privada, montando consultórios, mas sim para preencher um vazio no sistema de saúde. Sem falar que os médicos cubanos são reconhecidos internacionalmente por fazer muito, com poucos recursos (a situação imediata no país que, mesmo que fossem feitos investimentos maciços, não se resolve em dois meses).
Os dois anos propostos parecem tentar de alguma forma resgatar a função social (garantida na constituição) de uma das profissões mais importantes do mundo e ao mesmo tempo aprimorar a formação dos médicos do país, fazendo com que tenham contato com a realidade brasileira. Chamar isso de trabalho escravo é um sensacionalismo sem fim, já que eles serão pagos (o que por si só descaracteriza escravidão).
No fim, percebe-se que a classe médica não está tão interessada assim com a qualidade da saúde no Brasil.

Anônimo disse...

Não acho que as medidas anunciadas pelo governo federal tenham a intenção de culpar a classe médica pela saúde no país, muito menos seja retaliação por manifestações contra a importação de médicos.
A reação da classe médica muito me espanta. Em especial porque desde o começo eram contra a importação de médicos sem exame, em nome da "qualidade da saúde", mas ninguém, convenientemente, falou em aplicar o mesmo exame aos médicos recém formados no Brasil.
Existem vários problemas com a saúde no país, no entanto, uma realidade atual é que existem populações carentes sem nenhum atendimento médico, e seja ou não por recusa dos médicos brasileiros em trabalhar nessas áreas, a importação de médicos garantirá, em um primeiro momento, esse atendimento. Eles não virão para o país para trabalhar na rede privada, montando consultórios, mas sim para preencher um vazio no sistema de saúde. Sem falar que os médicos cubanos são reconhecidos internacionalmente por fazer muito, com poucos recursos (a situação imediata no país que, mesmo que fossem feitos investimentos maciços, não se resolve em dois meses).
Os dois anos propostos parecem tentar de alguma forma resgatar a função social (garantida na constituição) de uma das profissões mais importantes do mundo e ao mesmo tempo aprimorar a formação dos médicos do país, fazendo com que tenham contato com a realidade brasileira. Chamar isso de trabalho escravo é um sensacionalismo sem fim, já que eles serão pagos (o que por si só descaracteriza escravidão).
No fim, percebe-se que a classe médica não está tão interessada assim com a qualidade da saúde no Brasil.

Anônimo disse...

Não sou a favor da medida. Mas, eu bem que gostaria, antes de receber o meu diploma, ter uma remuneração garantida (em torno de R$6.000,00, que dentro do padrão Brasil seria muito boa) durante dois anos prestando serviços públicos através de minha futura profissão! Os professores, dentistas, engenheiros e etc, já fazem isso há tempos por conta da própria competição do mercado...

João disse...

Rodrigo, pode ter certeza que pelo menos 1 (um) jornalista, este aqui, vai se pronunciar contra esse avanço do governo sobre a vida das pessoas

Abs

Ataque Aberto. disse...

Excelente, Rodrigo..

Meus parabéns!

MP

Rodrigo Constantino disse...

O anônimo que pensa que não há escravidão porque há salário, primeiro precisa dizer isso para o governo, que chama de trabalho escravo não ter um dos 252 itens arbitrários; segundo, precisa entender que escravidão é contrária à ESCOLHA. Quando se OBRIGA o sujeito a trabalhar, mesmo recebendo, isso É escravidão sim!

Kynismós! disse...

Rodrigo, não é à toa que a ideia abaixo veio do mesmo assecla:

Governo lança ideia do “bolsa-aliciamento” de menores professores

http://acertodecontas.blog.br/educacao/mercadante-lanca-ideia-do-bolsa-aliciamento-de-menores-professores/

Anônimo disse...

Apoio sim os dois anos no SUS, e uma escola para quem quer aprender a ser médico. Os maiores médicos estão no SUS. Os meus médicos trabalham no SUS a décadas.

NicolleC disse...

Anonimo, a MAIORIA dos medicos trabalha ainda mais do que dois anos no SUS apos sua formacao. Alguns ate a vida inteira, mas por ESCOLHA propria. É injustificável OBRIGAR alguém a mudar-se, a trabalhar onde interessa ao governo porquê faltam profissionais neste local.
Acho de tamanho ABSURDO que fica difícil argumentar com quem apoia esse autoritarismo do governo.
Querido anônimo, você já se perguntou POR QUE faltam médicos nestes locais? Traria uma reflexão mais produtiva.
Será que médicos ainda nem completamente formados vão resolver o problema da saúde ou maquiar dados para o overno se orgulhar da presença de médicos em todo o país? mesmo que seja um médico chorando ao ver uma criança morrer com diarréia por falta de saneamento e completa usência de infra estrutura na saúde para trata-la, vale a pena?
Médico não é curandeiro, lembre-se disso.

Unknown disse...

Bom, para os que vão se formar em medicina em universidades federais não vejo problema em eles 'pagarem' uma infima parte do que eles receberam em estudos bancados 'pela população' em forma de serviço prestados (mesmo que temporariamente) a essa mesma população.

samuel disse...

Aos anônimos comentaristas. Não se trata de dois anos de trabalho para o SUS. It is about Controll stupid! Precisam entender que é uma forma de CONTROLAR os jovens médicos, a partir de Brasília, que lhes imporá um programa de "ADPTAÇÃO"...
PRECISAM entender que quando se OBRIGA o sujeito a trabalhar sob uma remuneração arbitrariamente estipulada, em lugares que ele não escolheu isso é escravidão sim, é contra tudo que se chama direitos individuais do cidadão!
Precisam entender que concordar com isso é admitir os métodos nazistas e cubanos, na feliz frase de Martin Niemoller trazida para este Blog.
Ou como diria o Jeca: Pimenta no c@ dos otro é refresco...


Anônimo disse...

trabalho social obrigatório para o governo e ganhar uma bolsa por isso é um neocomunismo a la diUma bolada.

Karine disse...

Então, Jonatas, você é a favor de que TODOS os egressos de universidades públicas prestem serviços compulsórios ao governo, certo? Deve ser essa a sua opinião, pois não há argumentos que justifiquem de forma sensata que só uma classe profissional tenha que "pagar" o investimento público em sua formação.
Eu pago impostos, meus pais pagam impostos, nós também somos cidadãos brasileiros, e somos nós TAMBÉM que bancamos essa conta.
Meu caro, se você não vê problema, então deveria tentar olhar a situação de novo com mais crítica e bom senso.

Pedro Lobo Martins disse...

Excelente post , Rodrigo. Minhas ideias parecem-se com as suas. Expressei-as hoje mais cedo em:http://caveab.blogspot.com.br/2013/07/escravidao-medica.html

Anônimo disse...

Não existe o serviço militar obrigatório ? É a mesma coisa. E o trabalho no SUS é igual ao modelo britânico e sueco.

Anônimo disse...

Acho uma verdadeira calamidade , por que que ao invés de gastar dinheiro mandando médicos ainda em formação, pisoteando por cima da grade curricular sem ter tido conversa prévia com as universidades, não abrem concursos para profissionais de saude e não só médicos, dão condições de trabalho e olhem só : esses estudantes que já estão no sétimo e oitavo ano de medicina ??? irão atuar sem registro profissional o que constitui prática ilegal da profissão, é crime!!! e o que a população ganahará com isso? nada, as condições permanecem as mesmas e ao invés de terem atendimento de qualidade com laboratórios, aparelhos de rx etc, vão ficar sendo observados por médicos em formação obrigados a estarem lá, pelo amor de Deus ACORDA BRASIL!!!!

Luciana disse...

Apenas um "detalhe": além do modelo, nao há nenhuma outra semelhança entre o SUS, o Reino Unido e a Suecia... "talvez" por esse motivo a proposta seja tao ultrajante...

Anônimo disse...

Não é semelhança entre o SUS, o Reino Unido e a Suécia. É que nesses países, os estudantes formados de medicina passam um tempo em hospitais públicos. Só isso ? A Dilma não inventou a lâmpada. Só se seguiu exemplos como na Suécia e Grã Bretanha

Anônimo disse...

...uma pena toda essa "falta de estrutura" em pequenas cidades, sempre mencionada, nunca ter merecido tamanha mobilização da classe. Entendem???

Anônimo disse...

Nós médicos trabalhamos no SUS desde os primeiros anos de faculdade e agora com 10 anos de formada continuo com a maior parte da minha carga horaria ainda no SUS. Tenho dois titulos d especialista e amo o q faço, assim como todos os meus colegas. Já existem provas após a faculdade para verificar a qualidade de ensino. O que é necessário é que as condições trabalhistas sejam eespeitadas para que o medico se desloque de locais com mais infra-estrutura para os com menos condições. Não se faz parto sem macs, não se colhe papanicolau em macas sem lençol, ninguém sobrevive intubado srm oxigênio. Desejamos que a péssima qualidade de gestão de saude sejam corrigidas. Nós estamos sendo culpados por tudo.... isso é im absurdo!

Anônimo disse...

Rodrigo,

Essa baboseira de "humanização" é a ditadura do politicamente correto se impondo sobre a medicina.
Como não conseguem resolver os problemas reais da saúde no Brasil, cria-se toda uma teoria sentimentalista e carregada de ideologia canhota, como se isso fosse a solução de alguma coisa.
Desde meus tempos de faculdade que escuto essa história de "precisamos humanizar a formação médica", "humanizar o atendimento"...como se o problema da falta de leitos, medicamentos, de toda essa estrutura precária, fosse culpa do "médico não-humanizado".
Existe também a tal "consulta centrada no paciente" que é um dos desdobramentos da tal "Humanização".
Consulta centrada no paciente nada mais é que o questionamento do "Método Clínico" tradicional, método esse que se pradicado de forma correta é praticamente infalível, para se propôr um método clínico mais "humanizado" onde o diagnóstico e o tratamento corretos não são o mais importante. Na verdade, "consulta centrada no paciente" é a "Pedagogia do Oprimido" de Paulo Freire, maquiada, e aplicada à medicina. O resultado da "Pedagogia do Oprimido" na educação nós já conhecemos: a total destruição da figura do Professor, que foi colocado no "mesmo plano" dos alunos(horizontalização = comunismo). Com o médico, pretendem fazer o mesmo, como se não aceitassem uma diferença de papéis, conhecimento e até certa "hierarquia" na relação médico-paciente, e como se isso fosse a causa dos problemas da saúde.
Desculpe o desabafo!
Abraço,

André Meira

Unknown disse...

Sim Karine, não veria problema em todos os profissionais (não só medicina) que se formam em universidades públicas terem que cumprir esse tipo de atividade para se formar. Veja, por exemplo o carro de pessoas extremamente carentes que também pagam impostos. Uma pequena centelha desses impostos servirá para para o seus estudos (caso vc faça uma uma universidade pública). Porém a sua alegação é de que seus pais, etc também pagam os impostos, dai o direito de "você" se formar e não querer dar nenhum infimo retorno a população. Acha que apenas os impostos que seus pais pagam seria proporcional ao que um aluno de medicina da na "USP", creio que vc a de convir que deve existir uma "colaboração" de uma ampla gama da sociedade para suportar essas despesas você não acha?

mirko disse...

Juramento a Hipócrates

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."