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sexta-feira, junho 15, 2012

Idiotas da obviedade


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Nelson Rodrigues costumava falar dos idiotas da obviedade ululante. Lembrei disso hoje ao ler os jornais em busca do tema para este comentário.

Logo de cara deparo com a constatação feita por estudo encomendado pelo próprio governo federal sobre o programa Bolsa Família. A mesada mensal estimularia, segundo a pesquisa, a permanência na informalidade.

Wau, como escreveria Paulo Francis. Quer dizer que pessoas reagem a incentivos? Quer dizer que os pobres preferem seguir trabalhando na informalidade para acumular o salário por fora e a mesada estatal? Não diga!

Em seguida, parto para o caderno de economia e vejo que a Petrossauro, como a Petrobras era chamada por Roberto Campos, anunciou seu novo plano de investimentos para o período de 2012 a 2016. Mais de R$ 400 bilhões serão investidos, sendo que a empresa tem valor de mercado menor que R$ 250 bilhões.

Quase 30% destes investimentos serão na área de refino, com baixa rentabilidade. Além disso, há a cláusula nacionalista na compra dos fornecedores, limitando a eficiência e prejudicando o cronograma. Por fim, a empresa é instrumento de política monetária do governo, e não aumenta os preços, mesmo com a alta do câmbio.

Resultado: queda de quase 4% das ações no dia do anúncio do programa de investimentos. A estatal já perdeu metade de seu valor desde 2009. Mais investimentos para gerar menor crescimento. Os investidores estão cansados e desanimados com a gestão estatal? Não diga!

Por fim, vejo no caderno de política que o PT e o PMDB blindaram Fernando Cavendish, o dono da Delta, na CPMI do Cachoeira. O dono da empresa que está no epicentro dos escândalos, considerada inidônea pelo próprio governo, simplesmente não será convocado para a CPMI. O deputado Miro Teixeira falou de uma “tropa de cheque” para impedir a ida do empresário, insinuando que há rabo preso por parte dos deputados e senadores.

A CPMI é uma farsa, montada por iniciativa do próprio PT e de Lula, para focar somente no governador do PSDB, na imprensa, no Procurador Geral da República e para desviar a atenção do julgamento do mensalão? A revista Veja estava certa, afinal? Não diga!

O Brasil é mesmo o país dos idiotas da obviedade. Para fechar com Nelson Rodrigues também, como é antigo nosso passado recente!

quinta-feira, maio 10, 2012

A gangue do guardanapo

Contardo Calligaris, Folha de SP

A FOTOGRAFIA da semana, para mim, é a de Fernando Cavendish (dono da Delta) e Sérgio Cabral (governador do Rio), com outros políticos e empresários, alegres além da conta, todos arvorando um guardanapo branco amarrado na cabeça -isso, num restaurante de Paris (o do hotel Ritz, ao que parece), em 2009.

A cena me lembra um caso recente. Um casal de brasileiros frequenta habitualmente um restaurante de Manhattan, porque o lugar é simpático e porque o maître também é brasileiro. Uma noite, no dito restaurante, uma mesa acomoda um grupo especialmente barulhento de mais oito brasileiros: os homens competem clamando seus pedidos de vinhos caros, e as mulheres competem gritando as compras do dia.

O maître recebe o casal de "habitués" pedindo em voz baixa: "Por favor, não vamos falar português, prefiro que eles não saibam que somos brasileiros".

É difícil assumir a brasilidade quando, na boca dos emergentes, o "brado retumbante" é o barulho de quem ambiciona se apresentar ao mundo pelo chacoalho do trocado que tem no bolso.

A mobilidade social brasileira é rapidíssima: em uma geração, criam-se fortunas (com ou sem a cumplicidade do poder público corrupto). Nesse ritmo acelerado de ascensão social, os novos ricos, em regra, adotam o luxo como puro símbolo de status, sem o tempo de elaborar uma cultura que lhes permita apreciá-lo. Com isso, escreveu justamente Elio Gaspari (Folha de 2/5), tentando ser chiques, eles são bregas: sua ostentação revela a falta de um gosto próprio e a vontade de ocultar sua origem recente.

Os novos ricos se envergonham de seu passado mais humilde e tentam ocultá-lo num agito fanfarrão que, justamente, revela aquela procedência que eles gostariam de espantar. Enquanto isso, os outros, como o maître de Manhattan, envergonham-se dos privilegiados de seu país.

Mas tudo isso não nos diz ao que vêm, na festa de Cavendish e companhia, os lenços na cabeça.

Para quem não viu a foto: são guardanapos dobrados em triângulos, cuja base é amarrada ao redor da testa, de modo que o pano recaia sobre os cabelos e a ponta seja eventualmente segurada na nuca. Ou seja, são bandanas.

Pioneiros, vaqueiros e bandeirantes a caminho do Oeste usavam uma bandana, que, ao redor do pescoço, servia para proteger a boca da poeira e dos insetos ou, amarrada de baixo do chapéu, estancava o suor. Antes disso, o mesmo lenço segurava o cabelo dos piratas. Depois disso, nos anos 1960 e 1970, ele segurava o dos motoqueiros rebeldes da contracultura.

A bandana é, tradicionalmente, um apetrecho de quem se engaja (real ou metaforicamente) no vento e na poeira dos caminhos menos percorridos. O ideal do cowboy, do "easy-rider", do aventureiro, do pirata, do surfista errante ou do roqueiro pode se encarnar em usuários mais sedentários, mas não menos ousados -à condição, claro, que eles precisem segurar o cabelo (é o caso, por exemplo, dos chefes de cozinha de hoje). Mas como esse mesmo ideal se encarnaria nos clientes brasileiros do Ritz de Paris?

Talvez a bandana da foto de Cavendish, Cabral etc. seja apenas uma versão da gravata na testa daqueles primos bêbados, que, no fim de uma festa de casamento, escolhem mostrar a todos os outros ("inibidos", "caretas" e "obviamente" invejosos) que eles, sim, sabem se divertir e são os verdadeiros heróis do hedonismo -os que não recuam diante do prazer. Isso, claro, até eles vomitarem num canto (conselho: nunca fique num casamento depois da saída dos noivos).

Ou talvez Cavendish, Cabral etc. achem que eles são mesmo os novos "easy-riders", cowboys ou bandeirantes. Mas qual é, então, sua aventura? Em que jornada eles precisam segurar o cabelo para correr livres no vento?

O guardanapo branco do Ritz é uma curiosa bandana: ele diz que a aventura desses pretensos aventureiros é apenas a de esbanjar seu privilégio (mais ou menos legal), sonhando em ser o objeto da inveja de todos. Em síntese: o guardanapo do Ritz é a bandana perfeita para quem quer surfar nas costas dos bananas (que seríamos nós).

Elio Gaspari prometeu uma viagem a Dubai para quem explicasse as bandanas do grupo de Cavendish etc. Se ajudei, renuncio desde já à viagem oferecida. Receio encontrar, em Dubai, o mesmo pessoal do Ritz ou seus amigos. Prefiro que Gaspari me convide para um jantar qualquer. Aliás, nem precisa me convidar. Mas o jantar é sem bandanas, ok?