sexta-feira, julho 05, 2013

Administrando a desgraça econômica

Rodrigo Constantino

A análise feita por Rogério Werneck no GLOBO hoje está perfeita, em minha opinião. Meu ex-professor da PUC argumenta que, mesmo com muitos no governo já tendo se dado conta de que o modelo macroeconômico adotado pela equipe econômica de Dilma seja uma desgraça (conforme muitos alertavam faz tempo, inclusive este que escreve), não é interessante para o PT revertê-la. Eis os motivos:

Tudo indica que os segmentos mais lúcidos do governo já notaram que o que foi pretensiosamente rotulado de “nova matriz macroeconômica” redundou em retumbante fracasso. Mas a avaliação da cúpula do governo é que já não há mais tempo para uma “guinada” na política econômica. De um lado, porque, a esta altura, a admissão do fracasso seria muito custosa. De outro, porque os benefícios da “guinada” custariam muito tempo para se fazer sentir.

O governo estaria, portanto, refém de seu próprio discurso ao longo de todo esse tempo no poder. Note-se que nem mesmo a cabeça de Guido Mantega rolou ainda! Ou seja, não há, por parte da presidente Dilma, sequer a preocupação em sinalizar ao mercado que compreende os erros de trajetória. Mantega ainda finge que está tudo bem, que não há crise, o que espanta até gente do próprio governo. 

O caminho escolhido, portanto, será o de insistir nos erros, torcendo para que dê tempo de atravessar as eleições e permanecer no poder. Se a crise não se agravar muito, impactando negativamente o emprego, a noção do governo é de que será viável superar o problema econômico e atingir seu único objetivo: continuar no poder. Para tanto, o governo já deixou claro que fará de tudo, o "diabo", como disse a própria presidente. Isso inclui mais malandragem, conforme explica Werneck:

Nesta semana, o Planalto deixou mais do que claro o quão longe está disposto a ir para “administrar no braço” a situação. Já sem qualquer preocupação com dissimulação, publicou decreto que amplia, de forma escancarada, as possibilidades de manipulação das contas fiscais, para geração de superávit primário fictício por meio da simples movimentação circular de recursos entre o Tesouro e o BNDES.

Claro que isso não vai acabar bem. A crise econômica tende a se agravar. Alguns petistas, chocados com a queda de aprovação da presidente Dilma, repetem que Lula passou pelo mesmo problema após o mensalão, mas conseguiu se recuperar e se reeleger. Como lembra Werneck, eles ignoram que foi justamente a forte economia que ajudou Lula na época. Dilma terá um quadro muito pior. Resta saber se isso vai resultar na retirada do PT do poder, e se o preço a ser pago pela população será alto demais até lá. Conclui com um alerta o professor:

É bom não ter ilusões. O que vem aí são 15 meses de mais do mesmo. Ou pior, de muito mais do mesmo. Apertem os cintos.

Nenhum comentário: