segunda-feira, outubro 04, 2010

Análise dos resultados eleitorais

Rodrigo Constantino, para a Revista Voto

Finalizada a apuração das urnas, podemos fazer uma análise mais detalhada de seus resultados. Em primeiro lugar, a maior derrotada de todas: a credibilidade dos institutos de pesquisa. Todos eles erraram, e erraram feio em alguns casos. O Vox Populi, por exemplo, apontava ampla margem de segurança para Dilma vencer já no primeiro turno. Marcos Coimbra deve explicações ao público. Seria apenas incompetência ou houve manipulação deliberada para ajudar a candidata preferida?
A lição importante é que os “oráculos” devem ser vistos com maior ceticismo e desconfiança, pois falham, e muito. O senador mais votado em São Paulo, por exemplo, foi o tucano Aluísio Nunes, que nem sequer estava entre os dois primeiros nas pesquisas. Os erros grosseiros dos institutos de pesquisa não mereceriam maior atenção, não fosse o caso de exercerem real influência nas campanhas e alianças dos candidatos, assim como nos votos dos eleitores. A “margem de erro” mostrada nas pesquisas deveria ser aumentada para retratar melhor a ignorância das pesquisas acerca da realidade.
Por outro lado, a grande vitoriosa das eleições foi, sem dúvida, Marina Silva, do PV. Com quase 20% do total de votos válidos, Marina se tornou uma nova força política que deve ser levada em conta. O assédio tanto de petistas como de tucanos no minuto seguinte aos resultados já mostra como o apoio do PV passou a ter peso de ouro. A “onda verde” conquistou muitos adeptos, e não é fácil identificar quais características cada um buscou neste voto. A questão ética teve seu peso, assim como a bandeira ecológica. Mas a verdade é que Marina ainda representa uma incógnita quando se trata de programa de governo na prática.
Aécio Neves foi outro grande vencedor nas eleições. Conseguiu a vitória folgada já no primeiro turno de Anastasia, assim como puxou Itamar Franco junto para o Senado. Saiu como o grande nome de oposição ao governo Lula. O que chama a atenção é a baixa quantidade de votos de José Serra em Minas Gerais, com pouco mais de 30% do total. Claramente Aécio não se empenhou o suficiente para ajudar o aliado tucano. Ele deve ter seus motivos. Mas uma parceria mais efetiva no segundo turno pode ser fundamental para ajudar Serra a virar o jogo.
Uma vencedora que merece aplausos nesta eleição é a imprensa livre, que cumpriu seu papel investigativo. Muitos estão colocando todo o mérito do segundo turno em Marina, esquecendo como os escândalos descobertos pela imprensa, especialmente a revista Veja, colaboraram para este resultado. É esta mesmo a função dos veículos de comunicação. Quando a imprensa se curva ao governo, já estamos a um passo de um regime ditatorial. Por isso a total liberdade de imprensa é fundamental para a democracia. E agora, com o segundo turno, os eleitores ganharam o direito de cobrar respostas dos dois candidatos, incluindo explicações melhores de Dilma sobre os casos de corrupção dentro da Casa Civil.
Outro grande vencedor das eleições, infelizmente, foi o fisiologismo tão bem representado no PMDB, o partido mais amorfo de todos. O PMDB passa a ter 19 cadeiras no Senado, bem acima do segundo maior, o próprio PT, com 13 assentos. Pouco muda nesse aspecto: qualquer um continua necessitando do PMDB para governar o país. A base aliada de Dilma conseguiu ampla maioria no Senado, e isso representa um risco de mudança constitucional que não deve ser ignorado. Mas, se o candidato José Serra conseguir virar a mesa e vencer, tarefa que não é impossível, boa parte do PMDB migraria para a nova chapa. O partido tem uma atração incrível pela situação, especialmente se isso significar muitos cargos em estatais e ministérios.
Um resultado que merece comentário é o fenômeno Tiririca, com mais de um milhão e trezentos mil votos no total. Somente Enéas conseguiu maior façanha na captura dos votos de protesto. A mensagem que esses eleitores tentaram passar não é tão clara, pois o puro deboche ou mesmo ignorância podem explicar parte da escolha. Mas muitos deles, sem dúvida, usaram Tiririca como um recado para os políticos de forma geral: enquanto tantos políticos continuarem tratando os eleitores como palhaços, os verdadeiros palhaços serão eleitos como políticos. Não deixa de ser um protesto legítimo; o problema é que o tiro sai pela culatra quando se percebe que tudo não passa de uma estratégia dos piores políticos para a captura indireta de votos.
Por fim, o grande derrotado nas eleições foi o debate sério, voltado para questões importantes dos respectivos programas de governo. Chavões vazios, promessas irrealistas, acusações mútuas, tivemos de tudo, menos propostas concretas sobre os principais problemas que assolam o país. Reformas como a previdenciária, a tributária, a trabalhista e a política sequer foram apresentadas de verdade. A qualidade do debate foi muito ruim. Espera-se que a oportunidade do segundo turno possa mudar isso.
Mas é preciso ser realista: sem um povo educado e voltado para estas questões, o populismo demagógico continua falando mais alto. Está na hora do povo brasileiro exigir um governo melhor, para merecer um governo melhor. Isso começa justamente nos debates entre os candidatos. Os eleitores devem cobrar propostas efetivas, que explicam como as metas serão atingidas, de onde vem os recursos para os programas etc. A razão precisa dominar a emoção. Os eleitores precisam amadurecer e fazer sua parte. Ainda estamos longe desta realidade.

6 comentários:

ntsr disse...

Rodrigo, se portugal diminuir o salario dos parasitas funcionarios publicos mesmo, tu podia comentar isso

Anônimo disse...

Só uma nova Assembléia Constintuite pode resolver o problema da alta carga tributária no Brasil. Antes de reduzir a carga tributária é necessário primeiro cortar os gastos.É nesse ponto que reside o maior problema Aonde se deve cortar esses gastos? Sou um defensor ferrenho da idéia de que os grandes culpados pela alta carga tributária no Brasil, são os déficits nas previdências e os altos salários de algumas carreiras públicas e é claro o grande número de funcionários pùblicos. Na Constituição há um artigo que determina a irredutibilidade salarial dos funcionários públicos, sendo que este artigo é considerado uma cláusula pétrea.

Anônimo disse...

Outro grande fenômeno foi o governador de PE, Eduardo Campos, quase 83%.

Em 2006, nas pesquisas ele perdia no 1 turno, na reta final conseguiu ir pro 2 turno. E no 2 turno virou o placar e ganhou a eleição.

Que isso sirva de exemplo pro Serra.

Anônimo disse...

Fato: Serra não tem popularidade em Minas ao contrario de Aécio. Que fez um bom governo

Unknown disse...

Vale comentar a questão da pobreza de conteúdo dos debates. Eu não tive saco de assistir nenhum por completo e sempre voltava para a Fox, ou para a Warnner depois de alguns minutos de propaganda eleitoral, pois era insuportável ver que o discurso político no Brasil se limitava a promessas sobre quem favorecer com o dinheiro de todos.

Infelizmente não ouvi nenhuma de discussão de idéias sobre o tamanho ideal e as atribuições e poderes que seriam justos ao Estado, nem nenhuma menção aos problemas que estamos prestes a enfrentar por conta do aparelhamento ideológico do serviço público, ou algo sobre a fome de poder e dinheiro das minorias organizadas em movimentos “sociais”, ONGs e sindicatos. Tudo que ouvi foi uma enxurrada de promessas de favorecimento a pequenos grupos: vou aumentar a verba disso, sem dizer qual verba vai ser reduzida pra fechar a contabilidade; vou construir tal obra, sem dizer qual vai ser postergada ou qual imposto vai ser aumentado pra pagar a conta; vou atender aos pleitos do grupo tal, sem comentar sobre como acalmar os demais que ficariam de fora e pagariam a conta...

Alguém consegue imaginar um candidato que chegasse na TV falando que não existe almoço grátis, que a liberdade é mais sagrada que a igualdade, que o governo só redistribui a parcela da produção nacional que confisca da sociedade, que mais obras implicam em mais impostos ou mais inflação, ou que o “interesse social” sempre é arbitrado por um pequeno grupo que na realidade só pensa no seu interesse pessoal? Alguém com tais crenças seria aceito por algum partido político?

Voltaire, ou algum outro maçom iluminista, não tenho certeza, disse que os grandes homens discutiam as idéias, os de inteligência mediana comentavam os acontecimentos e os medíocres só falavam sobre as pessoas. Citei isso porque nossos candidatos estão disputando os votos de um eleitor que é moral e intelectualmente medíocre. Só em sonho teríamos um candidato discutindo idéias, pois em um país onde a massa mal consegue compreender os fatos do dia-a-dia, seria suicídio político!

Anônimo disse...

EDSON VERGILIO said:

Olá Professor Constantino
É falta de ciência mesmo. Infelizmente nossas universidades (ou fábricas de mestres e doutores) estão abarrotadas de esotéricos e coletivistas de todos os naipes que se dizem professores, mas que na realidade não estão ensinando nada e nem formando ninguém especialmente nas áreas de ciências ( física, engenharia, matemática e estatística, ...).
Esse pessoal que está trabalhando nesses institutos de pesquisas não sabem estatística e muito menos como se aplica a mesma em termos de análise de mercado. Pesquisa eleitoral é a mais fácil de se fazer, mas nem isto estão sabendo fazer direito. Quando muito sabem o basicão da planilha Excell e acreditam que já sabem estatística aplicada.
Políticos são mais um produto como outro qualquer e pesquisa política é a modalidade mais fácil que tem nessa área. Se erram tanto é porque são ruins mesmo ou no mínimo mal intencionados. Como institutos de pesquisas são empresas comerciais, lógico que também podem estar manipulando para “atenderem as necessidades dos clientes”.
Se estivessem realmente aplicando a ciência, tais grosserias não aconteceriam, pois, a ciência detecta a fraude de qualquer maneira, e sempre dá certo apesar do cientista, pois esta tem um protocolo que detecta e bloqueia automaticamente os viéses do cientista, sem que nenhuma autoridade e ninguém “especial”, precise fazer nada. A ciência é importante, o cientista nunca foi, pois se alguém acha que tem algo a declarar em ciência, prepare-se para ser impiedosamente investigado. Não importa se este se chame Albert Einstein, R. Constantino, E. Vergilio ou Marcos Coimbra.
Em ciência a coisa é ou não é, não existe e não adianta o conselho de classe querer intervir ou ajudar. Ciência olha para o resultado, o que funciona aqui tem que funcionar lá, não está nem ai para o cientista por mais egocêntrico que este seja ou deseje ser.
Ninguém gosta disso, claro, mas esse é o método que a ciência tem para bloquear a alta conta em que esses embusteiros se tem. Não adianta eles dizerem coisas do tipo: “eu sinto que meus resultados são consistentes, por que vocês recusaram meu trabalho?”. Ou: “olhem minha história, meu passado, vocês têm de me dar um crédito de confiança. Acreditem em mim”. Nada feito, pois a ciência não dá a menor bola para o cientista.
O método da ciência parte da constatação de que somos imperfeitos, cheios de viéses e que vivemos tendo “sentimentos” e “intuições”. A ciência sabe que somos e não permite que nossos viéses dirijam o espetáculo. A regra é dura, mas é justa e funciona. Se não funciona tem que ser descartado. A ciência sempre desvenda a fraude por que a correção do erro está embutida no seu método.
NÃO ADIANTA O INSTITUTO DE PESQUISA FRAUDAR, POIS A URNA VAI DENUNCIAR E DAÍ ADEUS CREDIBILIDADE.
Marcos Coimbra ou tem uma equipe de incompetentes ou está sendo pago para confundir “VOX DO DONO” com VOX POPULI, mas a ciência sempre denuncia a fraude e cada vez mais a credibilidade dele e dos sem SENSUS E NEXOS também. VIVA A CIÊNCIA!
Um abraço. Edson Vergilio