Rodrigo Constantino, Palavra do Gestor - Valor Econômico
Durante o primeiro turno das eleições, os investidores não mostraram muito interesse nos resultados, talvez porque pensaram que a candidata Dilma venceria logo de cara e daria continuidade ao governo Lula. O segundo turno alterou esse quadro. Agora os investidores parecem mais atentos aos possíveis impactos das eleições nos mercados.
A tese que vou defender neste artigo é que o resultado das eleições não é indiferente para os investidores. São basicamente dois pontos principais: 1) Não há certeza alguma de que um eventual governo Dilma será apenas "mais do mesmo"; 2) Um eventual governo Serra tem chances concretas de representar mudanças mais relevantes nos rumos da economia, com possibilidade de algumas reformas desejáveis.
Em relação ao primeiro ponto, basta lembrar que o presidente Lula contava com seu carisma como arma para domar os mais radicais do PT, algo que claramente falta à Dilma. A candidata, que foi do PDT, chega a ser vista como "de fora" por muitos do partido. Não são poucos os petistas que ficaram incomodados com a imposição de sua candidatura. A volta de José Dirceu num eventual governo Dilma representa uma ameaça concreta, e a disputa de poder entre as diferentes alas do partido parece evidente desde já.
Além disso, não podemos descartar as incertezas que a própria Dilma gera, uma vez que ela jamais foi eleita para cargo algum. Claro que uma eventual vitória sua seria creditada ao apoio de Lula. Mas quais são as garantias reais de que, uma vez eleita, seu projeto pessoal de poder não vá ficar acima da gratidão ao presidente? Quem seriam seus principais ministros? Henrique Meirelles sairia do Banco Central? E quem ficaria em seu lugar? Quem seria o poderoso ministro das Fazenda?
As declarações de Dilma no passado recente apontam para uma identidade ideológica mais à esquerda que Lula. A candidata, por exemplo, sempre bateu de frente com as ideias de maior austeridade fiscal defendidas pelo então ministro Palocci. Sua visão de mundo parece apontar na direção de um governo ainda mais ativo na economia. O último ano de governo do presidente Lula, que foi o mais irresponsável de todos em termos de gastos públicos e ingerência nas estatais, pode muito bem ser o padrão de um eventual governo Dilma. Isso seria catastrófico para a sustentabilidade do crescimento econômico.
Já um governo Serra apresenta chances maiores de mudança. Não que o tucano seja o ideal para os investidores. Sonhar com reformas estruturais na previdência, nas leis trabalhistas e nos impostos pode ser irrealista. O mais provável seriam mudanças graduais na direção correta, desfazendo parte dos estragos causados pelo final do governo Lula. Mas bastariam algumas melhorias para sinalizar uma luz no fim do túnel.
Se hoje o cenário econômico parece favorável, isso se deve ao contexto internacional: China e abundância de dinheiro no mundo. Já o governo Lula plantou as sementes dos problemas à frente, estimulando além da conta o crédito estatal (BNDES), e expandindo os gastos públicos correntes de forma irresponsável. Tem também o estrago causado nas estatais, especialmente a Petrobras, que foi politizada demais e pagou um elevado custo por isso: suas ações despencaram mais de 30% este ano!
A possibilidade de vitória do Serra foi suficiente para que várias estatais reagissem positivamente nas bolsas. Isso demonstra que os investidores estão cientes de que um eventual governo Serra seria mais benéfico para a economia e para a gestão das estatais. Como o peso dessas empresas no Ibovespa ainda é bastante relevante, essa mudança seria suficiente para aumentar o potencial de alta dos ativos.
Há oportunidade de ganho na renda fixa também. A despeito da taxa de juros dos países desenvolvidos próxima de zero, a nossa taxa ainda está em dois dígitos. São vários os fatores que explicam isso, mas um deles, extremamente importante, diz respeito justamente aos gastos públicos e sua tendência explosiva, alimentando o fantasma da inflação. Se Serra conseguisse cortar esses gastos no começo do mandato, isso seria um catalisador para o fechamento das taxas ao longo da curva de juros. Isso criaria um círculo virtuoso na economia, puxando a bolsa também.
O futuro é incerto, e podemos apenas levantar hipóteses. Mas acredito que o certo é trabalhar, hoje, com dois cenários diferentes dependendo de quem vença as eleições.
2 comentários:
Caro Rodrigo,
Eu tendo a discordar de você quanto às reformas a serem realizadas pelo Serra. Na área fiscal até imagino que ele possa avançar com algumas reformas - as quais, porém, só serviriam para compensar os estragos que suas propostas para o salário mínimo e para os aposentados causarão aos nossos cofres.
Na parte monetária, porém, José Serra vai de mal a pior. Se achamos que Henrique Meirelles já está frouxo com a taxa de juros, com Serra a Selic vai para o que ele considera "níveis normais". Em outras palavras: no primeiro dia do governo ele irá, à canetada, reduzir a taxa de juros em uns bons quatro pontos.
A "vantagem" de Dilma em relação a José Serra é que, ao contrário do tucano, a candidata petista não entende nada de economia e tem ciência de sua ignorância. Está, pois, acompanhada de pessoas que, mesmo com certos desvios éticos no passado(me refiro, pois, a Palocci), parecem saber o que fazem. Serra, por sua vez, se entende como um grande sábio e caminha sozinho. Sozinho e com seu livro "Mais Além da Estagnação", escrito em conjunto com Maria da Conceição Tavares.
Obs: Na última segunda-feira, Aloysio Nunes reafirmou em entrevista ao Roda Viva, na TV Cultura, que é preciso que se intervenha no mercado de câmbio, e que Serra o fará.
mas Tomas ,como a Dilma não entende de economia ? ela não é doutoranda em economia pela Unicamp?(falta entregar a tese).
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