quinta-feira, outubro 07, 2010

Um Nobel liberal-democrata



Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Uma agradável surpresa. Eis a reação quando soube que o escritor peruano Mário Vargas Llosa havia recebido o Prêmio Nobel de Literatura. Acostumado a ver tantos intelectuais engajados na causa socialista - e de talento literário questionável - ganharem este importante prêmio, não deixa de ser uma alegria ver um liberal-democrata e ótimo escritor como Vargas Llosa sendo homenageado. Ele sempre combateu o atraso intelectual na América Latina, o populismo dos caudilhos que tanta desgraça trouxe e traz para a região, mesmo arriscando a perda de popularidade e das benesses que só os poderosos do governo podem oferecer.

No livro Dicionário Amoroso da América Latina, Vargas Llosa explica o que pensa sobre utopia. Uma vez que tantos latino-americanos ainda se encantam com as promessas utópicas, vale a pena colocar o longo trecho do escritor:

"Eu sou um utópico em tudo, menos em política. Creio que em política faço esforços intrépidos, há mais de trinta anos, para ser realista e democrático. A utopia é a negação da democracia ou, melhor dizendo, a democracia é a negação da utopia. A democracia é o possível, o imperfeito, parte do pressuposto de que a sociedade perfeita não existe nem existirá, nunca, que a sociedade só pode ser perfectível e que essa melhora só será realidade caso ocorra simultaneamente em muitos domínios. Creio que a democracia foi o que trouxe os maiores progressos em política. Mas creio também que isso é absolutamente insuficiente para aplacar os desejos, as ambições, os sonhos dos seres humanos - que buscam a perfeição. Então, acredito que a perfeição deve ser procurada em outros domínios. Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos".

Muito bem dito. "A utopia, inevitavelmente, tem gerado infernos". Evitemos, portanto, os anseios utópicos e, como tem defendido incansavelmente o agora Nobel de Literatura Mário Vargas Llosa, lutemos também pela democracia liberal. Em suas palavras, o "indispensável é que, cedo ou tarde, graças à democracia - a liberdade e a legalidade conjugadas -, todos os latino-americanos, independentemente de raça, língua, religião e cultura, sejam iguais perante a lei, tenham os mesmos direitos e oportunidades e coexistam na diversidade, sem se verem discriminados nem excluídos". Essa sim, é uma ótima meta!

3 comentários:

Renato disse...

Nunca li Mário Vargas Llosa, nem sabia que era peruano.

Vou procurar algum livro dele e dar uma olhada.

Bom texto, ótima notícia para os liberais, carentes de reconhecimento da "academia".

fejuncor disse...

Enfim, depois de longo e tenebroso inverno, um Nobel de Literatura à altura de um Vargas Llosa.

Estava difícil. Havia um hausto esquerdopata que sufocava candidaturas mais amigas da democracia e da liberdade. Excelente excerto sobre Utopia e Democracia. O peruano é uma jóia rara.

ntsr disse...

Será que é bom comemorar reconhecimento do povo do nobel? Alguns prêmios servem pra promover mais quem premia do que quem ganha