Carta Mensal da MP Advisors
“É o homem previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas chamadas “internacionais” (…) só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações: é um homem sem obrigações de nobreza.”
“É o homem previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas chamadas “internacionais” (…) só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações: é um homem sem obrigações de nobreza.”
O
Homem-Massa, segundo José Ortega Y Gasset
Usualmente,
os estudantes escolhem o mês de outubro para a semana do saco cheio, para dar
um tempo. Este ano, não só os estudantes
mas também toda sorte de gente escolheu junho para dar o seu grito de
basta. Todos foram para a rua protestar
contra 'tudo isso que está aí'. Nossos
leitores sabem que motivos não faltam para tanta indignação. Afinal, a conta dos
10 anos de PT está chegando, e garanto que não vai ser baratinha não. Mas o que exatamente está em curso? Esse
movimento nas ruas é algo positivo ou negativo? Quais as implicações políticas
do despertar do 'gigante'? E a economia? Qual a visibilidade para os
investimentos?
Não se trata de uma carta mensal
trivial e muito menos fácil. Quisera eu ter as certezas que as massas (reais e
das redes sociais) demonstram com tanta propriedade, após descobriremo que
afinal era essa tal de PEC 37. O que me move, neste texto, é um certo
assombro com o nosso tempo e mais dúvidas do que certezas em relação ao nosso
futuro. De qualquer forma, pode-se inferir do processo em curso:
-
As redes sociais, a exemplo do que já ocorre em outros países, agilizam e
potencializam esse movimento que os especialistas chamam de swarming (comportamento migratório de
manada). A democracia tradicional
representativa, onde o eleitor esperava pacientemente quatro anos por um recall (reelege ou não) do seu candidato
parece obsoleta no mundo em rede, onde as demandas são instantâneas. A geração
predominante (Y) é mimada e deseja tudo para ontem. O grande risco é a volta dos
governos populistas, agradando a qualquer custo o seu eleitor.
- O filósofo
Raymond Aron definiu os protestos de Paris em 68 como um 'psicodrama coletivo'.
Pela variedade difusa de demandas (algumas contraditórias entre si) e
pela falta de lideranças, o movimento tem componentes de um certo desconforto
existencial de uma geração, onde a crença em Deus (presente nas gerações
passadas) foi substituída pela crença no estado babá. Quando
o provedor não atende suas expectativas, a revolta e a angústia tomam conta do
indivíduo. Eles diagnosticam
corretamente o problema (o estado é corrupto e ineficiente), mas pedem, como
solução, justamente 'mais estado'. De
positivo pode-se ressaltar que o brasileiro se descobre como um 'pagador de
impostos'.
-
Falta de conexão entre causa e efeito. Não é de se espantar saber que quem está nas
ruas agora foi justamente quem elegeu PT
& aliados nos últimos 10 anos? A
massa se comporta como se os marcianos tivessem instalado o PT na direção do
país, contra a nossa vontade.
-
A resposta do governo nos levará mais e
mais para a esquerda. Afinal, quando
se pede para um pagodeiro tocar uma música, ele responderá tocando mais um
pagode. Assim é com a Dilma, não importa
o problema. Ela responderá sempre da mesma forma. Aliás, é bom frisar que gosto muito da Dilma
e do Mantega, quando estão dormindo. Os
dois acordados, e sendo pressionados pela turba, só responderão com mais e mais gastos públicos, já em curso
com o passe livre para os estudantes, a suspensão de reajustes nas
concessionárias elétricas e de rodovias e um não solicitado plebiscito de custo
estimado em R$ 500 milhões.
-
Muito da 'resposta' do governo e do
congresso é apenas cortina de fumaça, e sabemos que educação e saúde não irão
melhorar com esse nível de competência presente no governo, vide o atraso
presente em praticamente todas as obras do PAC. No curto prazo, as ruas devem se acalmar (os
protestos já reúnem menos e menos pessoas), porém no médio prazo (Copa de
2014?), essa multidão poderá voltar para as ruas, ensandecida e não mais disposta a dar um
crédito de confiança para as autoridades. O resultado pode ser catastrófico.
É
claro que não desejamos fazer a defesa
das autoridades no poder, apenas questionamos se esse método das ruas é o mais
eficaz. Acreditamos na legalidade e
nas regras do jogo. O mais importante
agora é termos certeza que o jogo eleitoral é limpo (porque não uma auditoria
nas urnas eletrônicas?) e lutarmos por uma mudança dos rumos do país nas urnas
e dentro das regras democráticas. A baderna nas ruas só interessa aos que não
tem nenhum apreço pela democracia, que fique claro. E imaginar que colocar centenas de milhares nas ruas sem
qualquer tipo de baderna é ingenuidade.
Para
adicionar insulto à injúria, o ataque de nervos brasileiro ocorre bem no
momento em que o banco central americano, o FED, anuncia que considera o início
da redução do programa de compra de títulos (algo como USD 85 bilhões por mês)
para o final de 2013 e se estendendo até meados de 2014. Embora
isso não signifique aumento das taxas de juros (que viriam em um momento
posterior), o mercado global se assustou e o impacto nos ativos financeiros foi
generalizado. Títulos de renda fixa,
ações, ouro e moedas tiveram oscilações negativas significativas. O resumo é que desde 2008 o Brasil teve 5 anos para arrumar a casa, fazer as reformas
e pavimentar o caminho de crescimento sustentável. Mas qual foi a opção de Dilma? Tal qual a
cigarra preguiçosa da fábula, ela optou por mais e mais gastos e estímulo ao
endividamento e ao consumismo exagerado da nova classe C. Pois bem, o inverno
está chegando e a cigarra não se preparou.
Na
renda fixa a nossa visão mudou um pouco.
Após um tempo de tutela, o Banco
Central parece que ganhou da Dilma liberdade para agir. Afinal, ela viu que
aumento dos preços pode tirar voto. Esperamos
um banco central um pouco mais ativo e imaginamos, no final do ciclo de aumento
dos juros, uma taxa SELIC na casa de 10% ao ano. No atual nível de preços dos títulos
pré-fixados, não vemos um prêmio razoável para estas posições, bem como no
mercado de papéis de curto prazo indexados à inflação. O
melhor é ficar pós-fixado e aproveitar a elevação das taxas. No mercado internacional os preços dos
títulos de renda fixa, após a correção, estão atrativos. Teremos um longo chão até o aumento de juros
nos EUA.
Temos alertado
nossos amigos e clientes a se manter longe da bolsa. A recente onda de populismo de Alckmin e Beto
Richa, impedindo os reajustes dos pedágios e de energia (Copel), mostra que não
existe setor seguro num país com governo socialista e oposição medrosa, que
tenta agradar às ruas de qualquer maneira. E um ambiente de aumento de juros e
estagflação não é propício para aventuras com as ações brasileiras.
O
dólar teve um mês nervoso, chegando a
bater em R$ 2,28 e fechando o mês na casa dos R$ 2,22. Aqui há dois fatores remando na mesma direção
(desvalorização do real): a tendência do dólar
se valorizar frente a todas as moedas (crescimento nos EUA ) somada aos
nossos problemas intrínsecos. Mesmo com toda a munição do governo, a
tendência do real é de uma lenta, porém constante, desvalorização.
O momento é de
calma, liquidez, pouco risco e comedimento nos gastos. O futuro nunca esteve tão incerto.
Um comentário:
Perfeito, Constantino. Lucidez e sensatez na análise. Parabéns.
Gostaria que comentasse esse artigo:
http://valterpomar.blogspot.com.br/2013/06/um-novo-tempo-apesar-dos-perigos_2478.html
Será que não vai de encontro com tudo que você tem falado ultimamente?
Abraços,
André
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